A dirigente birmanesa Aung San Suu Kyi, detida desde o golpe militar de 1º de fevereiro, comparece ao tribunal nesta quinta-feira (1º), um dia depois de o enviado da ONU a Mianmar alertar para o risco de uma "guerra civil" e de um "banho de sangue iminente" no país
A dirigente birmanesa Aung San Suu Kyi, detida desde o golpe militar de 1º de fevereiro, comparece ao tribunal nesta quinta-feira (1º), um dia depois de o enviado da ONU a Mianmar alertar para o risco de uma "guerra civil" e de um "banho de sangue iminente" no país.
Mais de 530 pessoas, entre elas vários estudantes, adolescentes e crianças, morreram vítimas da repressão do regime às manifestações contra o golpe, segundo a Associação para a Assistência a Presos Políticos (AAPP).
Centenas de pessoas foram detidas, e muitas estão desaparecidas, disse a AAPP.
A repressão de civis inflamou o número de grupos étnicos armados em Mianmar. Alguns deles lançaram ataques contra a polícia, aos quais o Exército respondeu com bombardeios.
Aung San Suu Kyi, que governava o país, de facto, até o golpe, deve prestar depoimento por videoconferência ante um tribunal em Naipyidó, capital do país.
Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, ela "parece estar bem de saúde", disse um de seus advogados, Min Min Soe, na quarta-feira, após falar com ela também por videoconferência.
A audiência desta quinta-feira será, em princípio, breve e dedicada a questões de procedimento.
Existe a possibilidade "de uma guerra civil em um nível sem precedentes", declarou na quarta-feira a enviada da ONU para Mianmar, Christine Schraner Burgener, em uma reunião a portas fechadas do Conselho de Segurança da ONU.
"Exorto este Conselho a considerar todos os meios à sua disposição para tomar medidas coletivas e fazer o que for necessário, o que o povo birmanês merece, para evitar uma catástrofe multidimensional no coração da Ásia", frisou.
Os 15 membros do Conselho de Segurança não conseguiram superar as divisões. Estados Unidos e Reino Unido defenderam a proposta de que a ONU aplique sanções à junta militar. A China, um aliado tradicional das Forças Armadas birmanesas, rejeitou a ideia, embora tenha pedido "a volta da transição democrática".
Enquanto isso, os generais birmaneses seguem sua repressão mortal às manifestações e processam Aung San Suu Kyi, de 75 anos. Contra ela pesam quatro acusações, incluindo "incitação à desordem pública". Ela também é acusada de ter recebido propina, mas ainda não foi "indiciada" por corrupção.
Suu Kiy pode ser condenada a vários anos de prisão e banida para sempre da vida política.
A resistência ao regime militar continua, com dezenas de milhares de funcionários públicos e trabalhadores do setor privado ainda em greve.
Na quinta-feira, vigílias à luz de velas e orações silenciosas foram realizadas em memória dos "mártires" mortos nos últimos dois meses.