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Liberdade de expressão em Cuba: diálogo entre governo e artistas é interrompido

Uma semana depois de uma mobilização histórica de artistas, o diálogo se rompe: o Ministério da Cultura de Cuba anunciou nesta sexta-feira (4) sua recusa em discutir a liberdade de expressão com pessoas que acusa de serem financiadas pelo governo dos Estados Unidos

AFP
04/12/2020 às 18:08.
Atualizado em 24/03/2022 às 03:15

Uma semana depois de uma mobilização histórica de artistas, o diálogo se rompe: o Ministério da Cultura de Cuba anunciou nesta sexta-feira (4) sua recusa em discutir a liberdade de expressão com pessoas que acusa de serem financiadas pelo governo dos Estados Unidos.

"Não nos entendemos com mercenários", disse o ministério em um comunicado que apelou à fórmula que as autoridades comunistas costumam usar para desacreditar dissidentes, classificando-os como agentes de Washington.

"O ministro da Cultura não se reunirá com pessoas que tenham contato direto e recebam financiamento, apoio logístico e respaldo propagandista do Governo dos Estados Unidos e seus funcionários", afirma o comunicado.

Mas "permanecem abertas as oportunidades de diálogo" com todos aqueles "que não comprometeram seu trabalho com os inimigos da nação cubana", acrescenta.

O compromisso de continuar conversando esta semana foi um dos principais acordos firmados na noite de 27 de novembro, ao fim de uma rara manifestação de cerca de 300 artistas em frente à sede do Ministério da Cultura (Mincult) que durou 15 horas.

Em Cuba, a autorização para protestar é emitida apenas em circunstâncias excepcionais. Quando vozes críticas anunciam sua intenção de se reunir publicamente, uma grande mobilização policial desencoraja qualquer reunião.

No entanto, desta vez, os artistas se conheceram de forma espontânea, graças a chamadas divulgadas nas redes sociais, em uma ilha onde a internet móvel chegou no final de 2018.

E, surpreendentemente, o Ministério da Cultura concordou em receber uma representação de 30 manifestantes, cujas principais reivindicações eram a liberdade de criação e expressão, o direito à dissidência e o fim da repressão e assédio contra artistas independentes.

No dia seguinte, porém, o governo subiu o tom, denunciando um complô dos Estados Unidos.

No comunicado, o Ministério da Cultura afirma ter recebido nesta quinta-feira "um email insolente, onde o grupo que se colocou como a voz de todos busca impor, unilateralmente, quem, com quem e para quê concordarão em dialogar".

O grupo também exige a participação do presidente Miguel Díaz-Canel e de representantes dos ministérios da Justiça e do Interior na discussão.

A lista de participantes inclui o artista Luis Manuel Otero Alcántara, líder do chamado Movimento San Isidro (MSI). Quatorze de seus membros fizeram por 10 dias uma barricada em uma casa em Havana, alguns deles em greve em a fome, que foi dissolvida pela polícia, gerando a manifestação em frente ao Ministério da Cultura.

Agora reunidos sob o emblema "27N" (27 de novembro), nome usado em contas do Twitter e do Facebook, esses artistas denunciaram na manhã desta sexta-feira, antes mesmo do anúncio oficial do ministério, a mudança radical das autoridades.

"Apesar desses acordos, desde a própria manhã do sábado, 28 de novembro de 2020, temos sido vítimas de uma campanha de difamação, que não só inclui os membros do MSI, mas também questiona as intenções daqueles que apoiamos em solidariedade com o referido Movimento. Nos manifestamos contra a violência política, a favor da vida, da justiça e da liberdade artística e de expressão", escreveram os artistas em comunicado postado no Facebook.

"Vários dos jovens presentes no encontro de 27N, junto com outros que nos acompanharam na consulta da agenda para o diálogo com o Mincult, ESTÃO SOB RIGOROSA VIGILÂNCIA E ASSÉDIO e inclusive alguns fomos detidos", acrescentaram.

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