O Tribunal de Apelação de Paris confirmou nesta sexta-feira (3) o arquivamento, após 20 anos de investigação, do caso sobre o atentado contra o avião do presidente ruandês Juvénal Habyarimana, que provocou o genocídio em Ruanda que matou 800
O Tribunal de Apelação de Paris confirmou nesta sexta-feira (3) o arquivamento, após 20 anos de investigação, do caso sobre o atentado contra o avião do presidente ruandês Juvénal Habyarimana, que provocou o genocídio em Ruanda que matou 800.000 pessoas em 1994.
Após seis meses de deliberações, os magistrados da câmara de instrução do Tribunal de Apelação confirmaram a decisão dos juízes antiterroristas, que ordenaram em 21 de dezembro de 2018 o arquivamento do processo contra nove membros ou ex-integrantes do entorno do atual presidente de Ruanda, Paul Kagame.
Os advogados da família Habyarimana e os parentes dos membros franceses da tripulação do avião anunciaram que pretendem recorrer contra a decisão.
Ruanda chamou o processo de "completa farsa".
Sem a perspectiva de um julgamento imediato, as partes civis esperavam no mínimo que o tribunal ordenasse a reabertura da investigação, para que a justiça francesa conseguisse obter um relatório secreto de 2003 do Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR), que atribuía a responsabilidade do ataque ao clã Kagame.
A investigação foi iniciada na França em 1998 a pedido das famílias dos membros franceses da tripulação.
"É uma decisão que não nos surpreende, infelizmente, mas isto não encerra a luta das partes civis, o combate de uma vida", reagiu Philippe Meilhac, advogado de Agathe Habyarimana, a viúva de Juvénal Habyarimana, após a audiência.
Ele denunciou "uma conotação política onipresente" no processo, citando palavras recentes do presidente Kagame.
"Querer reabrir um caso encerrado é querer criar problemas", afirmou o governante esta semana.
O caso abala as relações diplomáticas entre França e Ruanda há mais de 20 anos.
Em 6 de abril de 1994, o avião com Juvénal Habyarimana, da etnia majoritária hutu, foi derrubado em Kigali, por pelo menos um míssil. O atentado também matou o presidente do Burundi, Cyprien Ntaruamira, outro hutu.
O ataque acabou com o frágil processo de paz e é considerado o detonador de um genocídio que deixou mais de 800.000 mortos em três meses, segundo a ONU, principalmente da minoria tutsi.
Para os advogados de defensa, Léon-Lef Forster e Bernard Maingain, a decisão de 64 páginas "é um passo fundamental".
"Falar de satisfação seria ir longe demais, mas já é um passo, o que é uma forma de alívio", declarou Forster, lamentando um recurso no tribunal de cassação que, para ele, representa uma nova "manobra dilatória" das partes civis.
Quem foi o autor do disparo mortal contra o avião presidencial? Os investigadores franceses privilegiaram durante muito tempo a responsabilidade dos rebeldes tutsis, liderados por Paul Kagame (que virou presidente do país em 2000), antes de apontar um envolvimento de extremistas hutus, que desejavam o afastamento de um presidente que consideravam muito moderado.
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