Autoridades iranianas estão treinando militares na Venezuela "para controlar a sociedade venezuelana", denunciou nesta quinta-feira (14) o diretor-executivo da ONG Instituto Casla perante autoridades da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Europeia (UE)
Autoridades iranianas estão treinando militares na Venezuela "para controlar a sociedade venezuelana", denunciou nesta quinta-feira (14) o diretor-executivo da ONG Instituto Casla perante autoridades da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Europeia (UE).
Em coletiva de imprensa organizada pelo gabinete do Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro, e da qual participou também a Vice-Presidente do Parlamento Europeu Dita Charanzova, Tamara Suju destacou a presença de iranianos "ativamente" envolvidos em cursos de formação para venezuelanos no complexo militar Fuerte Tiuna em Caracas.
"A informação obtida pelo Instituto Casla é de que funcionários iranianos trabalham na chamada Escola de Operações Psicológicas que fica em Fort Tiuna", disse Suju, advogado venezuelano que dirige o Instituto Centro de Estudos Latino-Americanos (Casla), com sede na República Tcheca.
"É uma escola de treinamento para oficiais, onde eles são treinados ideologicamente sobre como podem ser as operações psicológicas para controlar a sociedade venezuelana", explicou.
"Esses cursos duram um ano e seis meses, e metade do curso é ministrado por funcionários cubanos e por funcionários iranianos", acrescentou.
Em mais de 20 anos de governos chavistas, Caracas manteve relações estreitas com Havana e Teerã.
Na videoconferência promovida pela OEA, Suju apresentou o último relatório do Instituto Casla sobre a Venezuela, que desde 2018 acusa o governo de Nicolás Maduro de cometer crimes contra a humanidade com a colaboração de autoridades cubanas.
Choques elétricos nos seios e genitais, afogamento em água suja, martelamento das unhas, asfixia com saco plástico com fezes, permanências em celas estreitas sem luz natural e com ar viciado: Suju detalhou o tratamento recebido pelos oponentes de Maduro detidos nas prisões venezuelanas, segundo testemunhos recolhidos por Casla.
"2020 foi sem dúvida um ano em que o regime venezuelano aproveitou para avançar no exercício do controle social por meio da repressão e da manipulação", afirmou.
Segundo a ONG de direitos humanos Foro Penal, há 350 "presos políticos" na Venezuela.
Almagro disse que, de acordo com as investigações da OEA, desde 2014 na Venezuela foram identificadas 18.093 execuções extrajudiciais por forças de segurança e grupos ligados ao governo, 15.501 casos de detenções arbitrárias e 653 casos de tortura desde 2014, além de 724 casos de desaparecimento forçado em 2018 e 2019.
"Esses crimes não prescrevem", assegurou, e pediu o fim da "cumplicidade com as ditaduras venezuelana e cubana" na comunidade internacional.
"A falta de justiça para os crimes contra a humanidade na Venezuela não é um problema por falta de provas, mas pela duplicidade de critérios que existe no sistema multilateral", disse ele, sem dar exemplos concretos.
Almagro questionou em dezembro a "lentidão" do exame preliminar que a ação penal do Tribunal Penal Internacional realiza desde fevereiro de 2018 contra a Venezuela, o que segundo ele incentiva a impunidade.
O vice-presidente da UE destacou o trabalho de Casla e também pediu ao TPI que abrisse uma investigação sobre a Venezuela.