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Homens de preto em avião? Trump alimenta teorias da conspiração nos EUA

A oito semanas das eleições nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump mergulha no abismo das teorias da conspiração, falando em sabotadores vestidos de preto, "sombras tenebrosas" e se dizendo vítima de golpe de Estado ou pesquisas distorcidas

AFP
03/09/2020 às 21:05.
Atualizado em 25/03/2022 às 08:48

A oito semanas das eleições nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump mergulha no abismo das teorias da conspiração, falando em sabotadores vestidos de preto, "sombras tenebrosas" e se dizendo vítima de golpe de Estado ou pesquisas distorcidas.

A última narrativa do republicano, candidato à reeleição, diz respeito a um avião cheio de agitadores que teria sido enviado para atrapalhar a convenção do seu partido em Washington na semana passada.

"Alguém embarcou em um avião de uma certa cidade e o avião estava quase lotado de provocadores vestindo esses uniformes escuros, uniformes pretos", disse ao canal Fox News na última segunda-feira. No dia seguinte, falou com repórteres sobre um "avião inteiro cheio de saqueadores, anarquistas e agitadores", e acrescentou: "Vou ver se consigo para vocês essa informação." Não o fez.

Semelhanças se tornaram aparentes entre o enredo de Trump e uma teoria da conspiração que circulou no Facebook no início do verão norte-americano sobre provocadores de esquerda transportados por aviões, levando a mídia dos EUA a perguntar a ele se essa seria sua suposta fonte secreta.

Na mesma entrevista para a Fox, Trump disse que o ex-vice-presidente Joe Biden, seu rival democrata na disputa eleitoral e que lidera muitas das pesquisas, é um fantoche controlado por "pessoas de quem nunca se ouviu falar, pessoas que estão nas sombras".

"Parece uma teoria da conspiração", disse a repórter da Fox, Laura Ingraham. "São pessoas de quem você nunca ouviu falar", repetiu Trump.

Os homens de preto e as forças ocultas misteriosas são apenas dois fios de uma grande trama que Trump usa para descrever sua presidência como sitiada por um "Estado profundo" que busca arruinar seu primeiro mandato e manipular a eleição para garantir que ele não consiga se reeleger.

O presidente caracteriza como uma "farsa" e um "golpe" as investigações oficiais sobre suas relações com a Rússia - país apontado pelo serviço de inteligência americano diversas vezes por suspeita de interferência nas eleições de 2016 a fim de aumentar as chances de Trump.

Além disso, quase diariamente, o republicano afirma que o potencial aumento do voto pelo correio em novembro devido à pandemia de coronavírus é uma tática para "fraudar" as eleições contra ele.

A magnitude das alegações sem provas de Trump não está muito atrás da teoria da conspiração de extrema direita QAnon, que viralizou e está latente desde o início da sua presidência. Os seguidores da teoria QAnon acreditam que um informante anônimo do alto escalão do governo, de codinome Q, trabalha heroicamente para expor uma conspiração anti-Trump cujos responsáveis, de alguma forma, estariam administrando uma rede satânica pedófila internacional que trafica crianças e controla o mundo.

Q tem um número crescente de seguidores on-line e na vida real, inclusive entre o público que vai torcer por Trump em comícios e outros eventos. Uma apoiadora republicana do QAnon, Marjorie Taylor Greene, está prestes a ser eleita para a Câmara dos Representantes.

Trump, que elogiou amplamente Marjorie, não faz nada para conter a febre Q. "Está ganhando popularidade", disse o presidente com aprovação no mês passado. "Eles gostam muito de mim."

Rich Hanley, professor da faculdade de comunicação da Universidade Quinnipiac, de Connecticut, afirma que Trump reflete - e se beneficia de - uma sociedade cada vez mais perdida no jogo de fumaça e espelhos da internet. "Ele pode ser um caso isolado entre os presidentes, mas não entre o número crescente de amantes de teorias conspiratórias nos Estados Unidos", apontou.

Com a possibilidade de que os resultados das eleições presidenciais saiam dias após o fechamento das urnas, por causa do aumento do uso do voto por correspondência, a paranóia e os rumores podem atingir um recorde histórico. "Será o Woodstock das teorias da conspiração, não importa quem ganhe, porque esse tipo de ficção está profundamente enraizado na realidade alternativa de milhões de pessoas", assinalou Hanley.

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