INTERNACIONAL

Há 40 anos, a humanidade triunfava sobre a varíola, primeiro vírus erradicado

No dia 8 de maio de 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou em Genebra que "todos os povos" estavam "livres da varíola", quase dois séculos após a descoberta da vacina

AFP
12/05/2020 às 20:38.
Atualizado em 30/03/2022 às 00:04

No dia 8 de maio de 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou em Genebra que "todos os povos" estavam "livres da varíola", quase dois séculos após a descoberta da vacina.

O vírus da varíola, cujo único reservatório era o ser humano, é transmitido por gotas de saliva, aerossóis e, em menor medida, por roupas contaminadas.

Dez anos depois da criação da OMS em 1948, a Rússia propôs em uma reunião da organização, "em um momento de distensão na Guerra Fria", que o mundo se dedicasse à erradicação da varíola, explica o epidemiologista americano Larry Brilliant.

"O governo dos Estados Unidos aceitou imediatamente", completou.

"Havia na ocasião uma vontade pública e política", destacou à AFP, antes de criticar o "nacionalismo" que prevalece atualmente no combate ao novo coronavírus.

Quatro décadas depois da erradicação da varíola, a COVID-19 paralisou o mundo em questão de meses, o que nunca foi provocado pela varíola, apesar de sua taxa de mortalidade de 30%, que deixou mais de 300 milhões de vítimas fatais no século XX.

"Podemos aprender muito com a varíola para a COVID-19 sobre a importância do rastreamento de casos, o isolamento de pacientes e o confinamento de seus contatos", explica à AFP a doutora Rosamund Lewis, diretora do departamento de varíola da OMS.

Quando a Organização Mundial da Saúde iniciou o programa intensivo de erradicação em 1967, os especialistas "seguiam de porta em porta" para procurar enfermos, disse Lewis.

Sem demora, alguns países perceberam que é necessário criar um "exército de saúde pública" para lutar contra a COVID-19, para entrar em contato com as pessoas e monitorar os casos, acrescenta.

Agora o rastreamento acontece por meio de aplicativos ou ligações telefônicas, com base na boa vontade das pessoas, mas a OMS defende a política, especialmente porque não há vacina contra a COVID-19.

A vacina contra a varíola foi desenvolvida no fim do século XVIII, quando um médico britânico descobriu que a inoculação do vírus da varíola da vaca (chamado vacine) protegia os humanos.

Antes da vacinação, a população praticava a variolização: um método muito antigo de imunização que consistia em inocular pus, um procedimento que "protege de modo eficaz, mas que tinha o inconveniente de permitir a circulação da varíola", comenta a francesa Anne-Marie Moulin, médica e filósofa no CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas).

"Em alguns países, a variolização continuou após a descoberta da vacina", explica, citando o caso da Índia, muito afetada pela doença.

A vacinação foi "o elemento principal da vitória" contra o vírus, mas o êxito também foi "resultado de uma colaboração internacional" baseada em campanhas de prevenção, tratamento e diagnóstico, disse Angela Teresa Ciuffi, do Instituto de Microbiologia da Universidade de Lausanne.

Quase 10 anos depois do apelo da Rússia, a varíola ainda provocava dois milhões de mortes por ano no planeta. Em 1967, a OMS começou a aplicar um programa de luta intensivo.

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