INTERNACIONAL

Grupo de cazaques reivindica parentes presos e desafia Pequim

Quando ela sai todas as manhãs para protestar por seu marido preso em Xinjiang, Gulnur Kosdaulet pega um modesto táxi coletivo que passa por sua fazenda na estepe do Cazaquistão, cercada por montanhas

AFP
19/03/2021 às 04:44.
Atualizado em 22/03/2022 às 07:56

Quando ela sai todas as manhãs para protestar por seu marido preso em Xinjiang, Gulnur Kosdaulet pega um modesto táxi coletivo que passa por sua fazenda na estepe do Cazaquistão, cercada por montanhas.

Uma hora e meia depois, está em frente ao consulado chinês em Almaty, a capital econômica do Cazaquistão.

Há um mês, um pequeno grupo de manifestantes, sobretudo mulheres, tem-se reunido ali todos os dias.

"O Cazaquistão e a China são amigos. Manifestamos para que ambos os governos cheguem a um acordo e devolvam nossos entes queridos para nós", explica Kosdaulet.

Seu marido, um veterinário de 47 anos, ficou detido por mais de três anos. Agora foi libertado, mas com seu passaporte confiscado, e então não pode voltar para o Cazaquistão. Pelo menos o casal pode se comunicar por telefone.

Outra mulher começa a chorar ao seu lado, depois de ter gritado em voz alta "bostandyq!", "liberdade" em cazaque.

"Estou procurando meu marido, Jarkynbek. Ele desapareceu há quatro anos", diz a mulher, Tursyngul Nurakai, mostrando duas fotos.

"E este é meu sobrinho Kenjebek. Ele foi preso por dez anos", completa.

Em Xinjiang (noroeste), as autoridades chinesas são acusadas de prender massivamente diferentes grupos étnicos, em especial muçulmanos uigures, mas também cazaques, em sua luta contra o "extremismo".

Em janeiro, o agora ex-secretário de Estado americano Mike Pompeo chamou essas perseguições de "genocídio".

E, este mês, dezenas de especialistas garantiram em um relatório para o Newslines Institute, com sede em Washington, que Pequim viola em Xinjiang uma convenção da ONU para a repressão aos genocídios.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, chamou essas acusações de "absurdas".

Pequim afirma que esses locais de detenção são centros de formação para impedir a violência, em uma região que em 2009 viu protestos contra as autoridades.

Gulnur Kosdaulet nunca se imaginou envolvido em algo assim. Mas, desde 2017, seu marido e pai de seus três filhos, Akbar, um cidadão chinês, não voltou de Xinjiang, onde foi para um funeral.

Sem essa situação, Kosdaulet indicou que teria permanecido "tranquila" em sua fazenda e "nunca teria pensado em política, nem um segundo".

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