Em Mianmar, os hospitais estão desertos, as administrações operam lentamente, e os trens permanecem estacionados nas plataformas.
Embora coloquem suas vidas e salários em risco, muitos funcionários públicos se recusam a trabalhar para a Junta militar e se uniram ao crescente movimento de desobediência civil que visa a enfraquecer os generais e paralisar a burocracia.
"Os militares precisam mostrar que sabem governar um país. Mas, se nós, funcionários, não trabalharmos, seu projeto de tomada do poder fracassará", disse à AFP Thida, uma professora universitária que prefere manter o anonimato e se recusa a dar aulas on-line, três semanas após o golpe.
Além disso, ela se juntou à greve nacional lançada por profissionais da saúde, muitos dos quais devem se esconder para evitar a prisão.
Escritórios e empresas do setor privado também foram afetados por interrupções no trabalho, enquanto várias agências bancárias não conseguiram abrir.
O aumento do quadro de funcionários dentro do protesto é o que tem abalado a Junta. Sem eles, não é possível arrecadar impostos, enviar contas de luz, ou organizar teste de covid, ou seja, tudo que implica o funcionamento do país.
A possibilidade de uma crise financeira se aproxima, devido à pandemia e ao declínio do investimento estrangeiro.
É difícil determinar quantos funcionários públicos, dos milhões que Mianmar possui, estão em greve.
De acordo com uma investigação, 24 ministérios foram afetados, e o relator nomeado pela ONU para Mianmar estima que cerca de 75% dos servidores públicos pararam de trabalhar.
Sua ausência começa a impactar o regime.
Pelo menos um terço dos hospitais do país não está funcionando, declarou essa semana Min Aung Hlaing, autor do golpe de Estado e chefe da Junta militar.
Ele também criticou a falta de profissionalismo dos trabalhadores da saúde e dos professores e deu a entender que aqueles que não aderiram à greve receberão um bônus, segundo declarações publicadas na terça-feira na mídia estatal.
De acordo com um médico consultado pela AFP, a falta de pessoal obrigou seu hospital a rejeitar novos pacientes.
E equipes médicas especializadas foram treinadas para atender manifestantes atingidos por balas de borracha e reais.
A imprensa local noticia que, em todo país, empregados de escritórios, executivos e caminhoneiros foram demitidos por participarem do movimento.