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Fantasma das expropriações volta a assombrar a Argentina

A decisão do governo argentino de expropriar a Vicentín, uma das grandes empresas agroexportadoras do país, revive temores entre empresários e investidores, justo quando o Executivo de Alberto Fernández tenta reestruturar 66 bilhões de dólares de dívida com credores do exterior

AFP
10/06/2020 às 23:17.
Atualizado em 27/03/2022 às 16:54

A decisão do governo argentino de expropriar a Vicentín, uma das grandes empresas agroexportadoras do país, revive temores entre empresários e investidores, justo quando o Executivo de Alberto Fernández tenta reestruturar 66 bilhões de dólares de dívida com credores do exterior.

Quarto maior vendedor de cereais e oleaginosas da Argentina, com um volume anual de negócios de 3 bilhões de dólares, a quase centenária Vicentín está na bancarrota e declarou suspensão de pagamentos e convocação de credores em dezembro.

Sua dívida chega a 1,3 bilhão de dólares. Tem 2.638 credores, muitos deles produtores. O maior credor é o estatal Banco Nación, com uma dívida de 255 milhões de dólares por créditos que estão em investigação judicial.

Na segunda-feira, Fernández anunciou a intervenção por decreto desta companhia fundada como empresa familiar e a intenção do governo de expropriá-la mediante uma lei que deverá ser aprovada pelo Congresso.

A medida provocou polêmica.

"Não estamos expropriando uma empresa próspera, estamos expropriando uma empresa em falência", justificou o presidente de centro esquerda, ao afirmar que se trata de resgatar uma companhia com mais de 2.000 funcionários e 2.600 produtores "desamparados".

Sua ideia é transformá-la em uma empresa mista, com 51% de capital estatal e 49% privado, assim como evitar que seja adquirida por uma companhia estrangeira.

"O Estado tem um papel, que é o de garantir a presença de capitais nacionais", disse Fernández.

Para o analista político Carlos Fara, a decisão de expropriar "dispara todo tipo de suspeitas ideológicas e também do ponto de vista da transparência".

Gustavo Sutter Schneider, das Confederações Rurais Argentinas, avaliou que "isto faz perder a segurança nos investimentos".

"Não gostamos que sejam tomados estes caminhos por mais que se levantem as bandeiras do bem comum", afirmou.

Um panelaço de protesto foi ouvido na noite de quarta-feira em bairros abastados de Buenos Aires, convocado som o lema "hoje vão atrás de uma empresa, amanhã da nossa casa".

A Argentina passou por um período de estatizações de empresas anteriormente privatizadas. Ocorreu durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015), nos quais Fernández foi chefe de gabinete por cinco anos.

Entre essas empresas estão Aerolíneas Argentinas e Aguas y Saneamientos Argentinos (Aysa), que foram acionadas perante o CIADI, o tribunal de arbitragem do Banco Mundial. Ainda está pendente um julgamento em Nova York pela estatização, em 2012, da petroleira de Yacimientos Petrolíferos Argentinos (YPF).

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