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Exílio do rei emérito Juan Carlos, fuga ou expulsão?

O rei emérito Juan Carlos, envolvido em um escândalo de corrupção, anunciou a saída da Espanha, com o objetivo de ajudar seu filho Felipe VI a preservar a imagem da monarquia, mas os espanhóis se perguntam se ele não quis fugir de suas responsabilidades

AFP
04/08/2020 às 10:14.
Atualizado em 25/03/2022 às 17:37

O rei emérito Juan Carlos, envolvido em um escândalo de corrupção, anunciou a saída da Espanha, com o objetivo de ajudar seu filho Felipe VI a preservar a imagem da monarquia, mas os espanhóis se perguntam se ele não quis fugir de suas responsabilidades.

Analistas consideram que o soberano, de 82 anos de idade, sob investigação, mas que não foi acusado, não tinha outra escolha, apesar do exílio ser mal visto pelo público.

Os partidos anti-monarquistas denunciam uma "fuga" vergonhosa. De acordo com uma pesquisa on-line realizada pelo jornal ABC, 68% dos espanhóis consideram comprometedora a decisão de Juan Carlos de deixar a Espanha.

"Ele deveria ter ficado, é um pouco vergonhoso que tenha partido", opina Aranzazu Catalina, de 43 anos, natural de Madri, entrevistada pela AFP no dia seguinte ao exílio do rei emérito. Ela lamenta a "má imagem" deixada pelo antigo soberano.

Juan Carlos anunciou na segunda-feira que estava deixando o país em uma carta a seu filho, argumentando que queria "facilitar o exercício" de seus deveres diante das "consequências públicas de certos eventos passados de (sua) vida privada".

Aparentemente, Juan Carlos estava se referindo à investigação aberta em junho pela Suprema Corte sobre possíveis irregularidades cometidas por ele, mas unicamente por atos após sua abdicação em 2014, quando perdeu sua imunidade.

A Justiça suíça também investiga milhões de dólares que teriam sido pagos a Juan Carlos em uma conta na Suíça pela Arábia Saudita em 2008.

Para vários analistas de política e realeza, o rei não fugiu, como os anti-monarquistas o acusam, mas foi forçado ao exílio.

"É uma partida involuntária", afirma Paloma Roman, professora de Ciências Políticas da Universidade Complutense de Madri. Segundo ela, Juan Carlos I "estava sob pressão do governo de seu próprio filho".

"Felipe sempre tentou amortecer os golpes" à monarquia, mergulhada em escândalos, observa ela. Este ano, ele já havia retirado do pai sua pensão anual e depois renunciado a sua herança.

Para Abel Hernandez, jornalista e autora de vários livros sobre o rei, Juan Carlos está saindo sob pressão "pública, da mídia, política".

"Não é um rei que foge. É um rei que é expulso e que sai para evitar que seus problemas contaminem a instituição real", estima Hernandez.

"Do lado de fora, pode ser percebido como uma fuga, mas não é. Ele nunca fugiria", acrescenta o jornalista José Apezarena, autor de uma biografia de Felipe VI.

Ele também acredita que houve "uma pressão política cada vez mais forte sobre a Zarzuela (Casa Real) para que fizesse algo para silenciar as críticas, suspeitas, etc".

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