INTERNACIONAL

Ex-senhores da guerra se tornam emissários da paz na RDC

"Peço a vocês que privilegiem a paz. Eu passei 15 anos na prisão", diz o ex-senhor da guerra Floribert Ndjabu a milicianos reunidos perto de Masumbuko, um vilarejo remoto da província de Ituri, no nordeste da República Democrática do Congo

AFP
23/09/2020 às 13:27.
Atualizado em 24/03/2022 às 11:42

"Peço a vocês que privilegiem a paz. Eu passei 15 anos na prisão", diz o ex-senhor da guerra Floribert Ndjabu a milicianos reunidos perto de Masumbuko, um vilarejo remoto da província de Ituri, no nordeste da República Democrática do Congo.

Ao seu lado, o general Germain Katanga, condenado em 2014 pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra, mantém-se vigilante diante dos membros de um grupo acusado do massacre de centenas de civis.

"Não são crianças de coral", aponta o general Katanga, libertado da prisão no início do ano, como Floribert Ndjabu.

Junto com meia dúzia de outros condenados que cumpriram suas penas, os dois homens foram enviados pelo presidente da RDC, Félix Tshisekedi, como emissários pela paz em Ituri, um dos muitos focos de violência do país e uma região onde eles próprios semearam o terror nos anos 2000.

Sua missão: desarmar os milicianos da Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (Codeco), uma seita político-militar que afirma defender os lendu, uma comunidade local, principalmente de agricultores.

Os membros da Codeco são acusados de terem matado centenas de civis desde dezembro de 2017.

"A grande maioria das vítimas parece ter sido assassinada por pertencer à comunidade hema" - criadores de animais e comerciantes -, segundo as Nações Unidas, que temem possíveis "crimes contra a humanidade".

Para chegar à mesa de discussões, os emissários da paz percorreram a estrada entre a capital Ituri, Bunia, e o território de Djugu, epicentro da violência.

Conforme o comboio deles passava, escoltado pelo Exército, dezenas de combatentes saíram da floresta. Alguns carregando armas de todos os calibres, estoques de munição, lanças e facas.

Chefe da delegação, Floribert Ndjabu caminha até eles, apresenta-se e ordena: "Subam no grande veículo atrás". "Nosso respeito, presidente", respondem os combatentes, que assim o fazem.

Eles o reconhecem como presidente da Frente dos Nacionalistas e Integracionistas (FNI), grupo político armado em ação durante a "primeira guerra de Ituri", entre 1999 e 2003.

Ndjabu foi processado, mas nunca condenado por ter ordenado o assassinato de nove soldados da paz de Bangladesh, em 2005.

No final da tarde, o comboio chega ao seu destino, no vilarejo de Masumbuko.

Em traje civil, ou em uniforme militar "emprestado" do Exército, os milicianos desfilam com suas armas: lança-foguetes, metralhadoras, fuzis. Bastante indiferentes, os habitantes os observam de longe.

Visivelmente envolvidas com esta seita político-militar, cerca de 20 crianças caminham em procissão, vestidas de branco. Meninas cantam hinos para a glória do "general Ngudjolo", um líder da milícia Codeco morto no início deste ano pelo Exército.

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