Os Estados Unidos denunciarão as violações dos direitos humanos independentemente de onde ocorram ou se forem cometidas por países aliados, prometeu o chefe da diplomacia, Antony Blinken, nesta terça-feira (30), marcando um rompimento com a política do governo de Donald Trump
Os Estados Unidos denunciarão as violações dos direitos humanos independentemente de onde ocorram ou se forem cometidas por países aliados, prometeu o chefe da diplomacia, Antony Blinken, nesta terça-feira (30), marcando um rompimento com a política do governo de Donald Trump.
No primeiro relatório anual sobre direitos humanos editado no governo de Joe Biden, o Departamento de Estado destacou - no que diz respeito à América Latina - o agravamento da crise humanitária na Venezuela devido à corrupção do governo de Nicolás Maduro, a aprovação de leis cada vez mais "repressivas" na Nicarágua e as contínuas "restrições" à liberdade de expressão em Cuba.
Blinken, por sua vez, assegurou que o governo Biden se oporá a "violações dos direitos humanos onde quer que ocorram e independentemente de quem é o responsável, se são rivais ou aliados".
O chefe da diplomacia americana insistiu especialmente em apontar o "genocídio cometido contra a maioria muçulmana uigur" na região chinesa de Xinjiang e a repressão pelas forças armadas birmanesas contra os manifestantes que se opõem ao golpe militar de fevereiro.
"A tendência dos direitos humanos continua indo na direção errada. Vemos evidências disso em todas as regiões do mundo", disse Blinken a repórteres durante a apresentação do relatório.
O secretário de Estado também criticou o governo Trump, que focou sua política em direitos específicos, como a liberdade religiosa, às vezes em detrimento dos direitos das minorias ou do acesso ao aborto.
"Não há hierarquia que torne alguns direitos mais importantes do que outros", afirmou Blinken, observando que seu departamento virou a página das "opiniões tendenciosas".
Nesse sentido, Blinken ordenou que fosse realizada uma avaliação dos direitos reprodutivos em cada país, capítulo que havia sido suprimido como parte da doutrina antiaborto do governo Trump.
Como parte da mudança de tom, Blinken reconheceu os desafios que seu próprio país enfrenta, incluindo a luta contra o "racismo sistêmico".
"Isso é o que separa a democracia das autocracias: nossa capacidade e nossa disposição de enfrentar nossas deficiências abertamente", lembrou, antecipando possíveis críticas.
No que diz respeito a Cuba, os Estados Unidos mantiveram sua abordagem ao qualificar o país como um Estado "autoritário" sem eleições livres e denunciando execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados e tortura.
Em relação ao Oriente Médio, o governo de Joe Biden manteve a semântica inaugurada pelo governo de Donald Trump e evitou descrever a Cisjordânia como um "território ocupado" no relatório.
No governo Trump, o relatório do Departamento de Estado começou em 2018 a se referir a Israel, Cisjordânia e Gaza, abandonando a tradição de usar a fórmula "Israel e os territórios ocupados", uma mudança que foi interpretada como uma rejeição ao consenso internacional de que Israel é uma força de ocupação.
No primeiro relatório do governo Biden, que cobre os acontecimentos de 2020, o Departamento de Estado não reverteu essa forma de se referir à região.
"A linguagem neste relatório não pretende estabelecer uma posição definitiva nem um status a ser negociado com as partes no conflito, incluindo os limites específicos da soberania israelense em Jerusalém e as fronteiras entre Israel e um eventual futuro Estado palestino", disse Lisa Peterson, subsecretária interina dos Direitos Humanos.
Segundo a alta funcionária, os autores do relatório continuam a acreditar que é preferível atribuir nomes geográficos aos lugares.