INTERNACIONAL

Estudantes de medicina russos denunciam mobilização forçada

A mobilização de estudantes contra o coronavírus na Rússia é realizada sob ameaça das autoridades - "aqueles que não vão, não recebem diploma e correm o risco de serem expulsos" - denuncia Svetlana, estudante de medicina do sexto ano em Moscou

AFP
13/05/2020 às 22:04.
Atualizado em 30/03/2022 às 00:48

A mobilização de estudantes contra o coronavírus na Rússia é realizada sob ameaça das autoridades - "aqueles que não vão, não recebem diploma e correm o risco de serem expulsos" - denuncia Svetlana, estudante de medicina do sexto ano em Moscou.

Dado o número de infecções, o sistema de saúde russo - enfraquecido pela falta de pessoal, anos de cortes no orçamento e reformas controversas - está sob pressão. A implantação de quase 100.000 leitos adicionais em todo país está se mostrando insuficiente.

Até sábado, havia quase 200.000 casos identificados.

Em 27 de abril, os Ministérios da Saúde e da Educação emitiram um decreto ordenando aos estudantes de medicina do quarto, quinto e sexto períodos a realização de "treinamento prático" em hospitais que tratam pacientes com COVID-19, a partir de 1º de maio.

Somente aqueles com "contraindicações médicas" estão isentos.

Segundo vários testemunhos coletados pela AFP, como o de Svetlana, alguns estudantes afirmam que estão sendo ameaçados de exclusão, caso se recusem a participar. Eles pedem para permanecer anônimos por medo de retaliação.

Também estão preocupados com a falta de equipamentos de proteção individual nos hospitais. As autoridades reconhecem que há dificuldades, mas minimizam o alcance.

Alexandra, no quarto ano de medicina na Universidade de Setchenov, é franca: se "os médicos não têm os meios de proteção, duvido muito que exista o suficiente para nós".

A jovem também afirma que não vão realocá-la e ela não quer arriscar "infectar seus pais" que moram na mesma residência. Sem proteção e sem experiência, "não ajudaremos e espalharemos a infecção".

Elena, em seu segundo ano em Setchenov e, portanto, isenta da mobilização, afirma que alguns colegas receberam ameaças.

"Se você não aceitar, não terá diploma, ou especialização", disseram eles, segundo ela.

Em um apelo anônimo publicado nas redes sociais, estudantes da Universidade de Pirogov pediram ao reitor Sergey Lukianov para estabelecer o "voluntariado" como um princípio.

Nem esta universidade nem a secretaria de saúde de Moscou responderam aos pedidos da AFP por reações.

A vice-reitora da Universidade de Setchenov, Tatiana Litvinova, contactada pela AFP, afirma que trabalhar em uma área que trata de pacientes com COVID-19 não é obrigatório.

"Se um aluno não quiser, pode continuar seu treinamento em outro centro. Ninguém o está forçando", disse Litvinova, contrariando o texto do decreto, que, em seu estabelecimento, afeta mil estudantes.

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