Em plena polêmica sobre a origem do novo coronavírus, o epidemiologista americano Larry Brilliant pede que Pequim seja mais "transparente" e autorize uma investigação internacional para evitar qualquer suspeita
Em plena polêmica sobre a origem do novo coronavírus, o epidemiologista americano Larry Brilliant pede que Pequim seja mais "transparente" e autorize uma investigação internacional para evitar qualquer suspeita.
Acidente, ou fuga de laboratório, bioterrorismo: multiplicam-se as hipóteses sobre a origem do vírus SARS-CoV-2 - causador da COVID-19, doença que causou quase 300.000 mortes no mundo.
"Nós deveríamos ser autorizados, e os cientistas chineses deveriam ser autorizados a estudar a origem da doença", assegura Larry Brilliant, que foi consultor técnico dos diretores do filme de ficção Contágio.
"Eu diria aos meus amigos chineses que é do interesse deles descobrir onde foram os primeiros casos e serem radicalmente transparentes", ressaltou em entrevista à AFP.
O consenso da comunidade científica é que o vírus não foi criado por seres humanos, mas alguns pedem esclarecimentos de sua origem e sua transmissão aos seres humanos.
Os Estados Unidos e a Austrália exigem uma investigação internacional, mas Pequim se opõe, apesar dos apelos à Organização Mundial da Saúde.
As suspeitas de Washington estão cada vez mais focadas em um possível acidente de laboratório no Instituto de Virologia Chinesa de Wuhan, que teria permitido que um coronavírus de origem natural contaminasse os seres humanos.
"Ninguém ficaria irritado se fosse um acidente", ou se soubesse que o vírus circulava há vários meses no resto da China, antes de ser relatado em dezembro em Wuhan, considera Larry Brilliant, creditado com um papel importante na ação liderada pela OMS para erradicar a varíola.
O especialista, que durante anos liderou a organização que supervisiona as atividades de caridade do Google, aponta para o comportamento "suspeito" de Pequim, convidando-o a silenciar os "rumores".
Mas a China, que nega ter ocultado informações, contenta-se por enquanto em apoiar a criação de uma comissão liderada pela OMS para avaliar "a resposta global" à COVID-19, e somente "após o fim da epidemia".
Para Brilliant, o genoma do novo coronavírus - 95% idêntico ao do da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV1) de 2003 - permite rejeitar a hipótese de uma "arma biológica".
"Se fosse uma arma biológica, haveria muitas outras diferenças e teria sido fácil ver essas diferenças como tendo sido concebidas", detalha.
Ele apoia, no entanto, a "suposição razoável de que o vírus já estava se espalhando na China em novembro, ou mesmo antes, passando de homem para homem".
Para a epidemia assumir tais proporções já no início de 2020, "ou houve um evento muito grande em Wuhan" no final de 2019, permitindo uma circulação rápida e em larga escala, "ou o vírus estava circulando na China antes disso".
Esta última hipótese explicaria a pequena evolução do SARS-CoV-1 para o SARS-CoV-2: "Quando o vírus passa de um ser humano para outro, há uma pequena mutação, ou mudança genética", explica Brilliant.