Uma coalizão com 230 organizações da sociedade civil se uniu para pedir o fim do teto de gastos como medida de reação aos efeitos negativos provocados pela pandemia do novo coronavírus na área social
Uma coalizão com 230 organizações da sociedade civil se uniu para pedir o fim do teto de gastos como medida de reação aos efeitos negativos provocados pela pandemia do novo coronavírus na área social. O movimento reúne entidades que integram o Grupo de Trabalho (GT) para o atingimento das metas da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e a Coalizão Direitos Valem Mais. Entre elas estão, Conselho Nacional da Saúde e Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.
Com a hashtag #AcabaTetoDeGasto, o movimento prepara peças para mídias sociais e vídeos para chamar a atenção de parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para o mote da campanha - que é a "urgência em acabar com o teto de gastos".
"A emenda do teto causou efeitos perversos no financiamento de políticas sociais, principalmente nas áreas de saúde, educação, habitação, segurança alimentar e assistência social, agravados pela pandemia da covid-19", diz Alessandra Nilo, cofacilitadora nacional do GT Agenda 2030.
Pelos cálculos do movimento, somente na área da saúde deixaram de ser investidos cerca de R$ 30 bilhões nos últimos dois anos. Na educação, afirma a coalizão, foram perdidos R$ 7 bilhões, enquanto o orçamento da assistência social caiu 9,2%.
O movimento considera que o teto reduziu as políticas sociais necessárias para proteger a população mais vulnerável e deixou o País "com baixa imunidade" para enfrentar a pandemia.
Divisão
Entre economistas, o tema não tem consenso. Crítico do teto, o economista Fabio Terra, professor da Universidade Federal do ABC, diz que o instrumento constituiu, ao final, uma tentativa ruim de formar um novo regime fiscal. "Ele é inexequível", afirma. Para Alexandre Manoel, ex-secretário de Ministério da Economia, manter o teto significa interromper abruptamente o auxílio emergencial pago a trabalhadores informais.
Para ele, mesmo que se junte os programas sociais, como abono salarial e seguro defeso, essas fontes de financiamento não ficarão disponíveis imediatamente. "Há necessidade de um espaço fiscal para a transição", afirma.
Por outro lado, economistas como Pérsio Arida e Affonso Celso Pastore têm feito uma defesa enfática do teto em entrevistas e artigos, assim como o ex-secretário do Tesouro, Mansueto Almeida. "Se não retornarmos ao teto de gastos, corremos o risco de novamente nos desviar do mundo e, em vez de taxas de juros e de inflação baixas, voltar aos 'gloriosos' anos da dominância fiscal", escreveu Pastore, em recente artigo publicado no Estadão.
O economista Fabio Giambiagi, especialista em contas públicas que no ano passado defendeu uma mudança no teto de gastos para valer a partir de 2023, diz que segue com a crença de que a regra precisará ser alterada, mas avalia que a crise tornou o momento inadequado para essa discussão. "Precisamos voltar ao teto no ano que vem e deixar essa discussão (de mudança) para 2023. Sou defensor da mudança do teto no futuro." Ele acrescenta que, hoje, a regra é "chave" para evitar a volta dos juros altos, que afugentariam novos investimentos privados.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.