INTERNACIONAL

Em Teerã, eleições americanas estão na boca de todos

Washington vem exercendo uma política de "pressão máxima" contra Teerã há mais de dois anos, e os iranianos não tiram a eleição presidencial americana da cabeça, divididos entre a esperança e o derrotismo, se Donald Trump vencer novamente

AFP
08/10/2020 às 09:37.
Atualizado em 24/03/2022 às 11:00

Washington vem exercendo uma política de "pressão máxima" contra Teerã há mais de dois anos, e os iranianos não tiram a eleição presidencial americana da cabeça, divididos entre a esperança e o derrotismo, se Donald Trump vencer novamente.

A política doméstica americana desperta enorme interesse no Irã. O dia a dia de seus habitantes foi fortemente alterado pelas decisões tomadas nos Estados Unidos, em um contexto de relações conflituosas entre Washington e Teerã que já dura mais de quatro anos.

Desta vez, porém, "a percepção geral é que o resultado dessas eleições presidenciais é crucial para a população", explicou à AFP Zeinab Esmaili, repórter no jornal reformista "Sharq" e especializada em diplomacia.

Nessas circunstâncias, "é normal que falemos sobre as eleições nos Estados Unidos", confirmou Mohamad Amin Naqibzadeh, um estudante de geopolítica de 28 anos.

Desde junho de 2019, as tensões entre Irã e Estados Unidos aumentaram o temor de um conflito direto em duas ocasiões.

E, de fato, em família, entre amigos, ou no bazar, fala-se apenas disso, ou quase, porque as outras duas preocupações - para não dizer obsessões - do momento ainda são a alta dos preços e o valor do rial (moeda nacional) no mercado de câmbio. Ambos estão intimamente relacionados com a disputa eleitoral nos Estados Unidos.

Em 2018, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar unilateralmente seu país do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado em 2015 em Viena e de restabelecer sanções contra a República Islâmica mergulhou o Irã em uma recessão com repercussões sociais dramáticas.

A pandemia da covid-19, que atinge fortemente o Irã, piorou ainda mais a situação, e o colapso do rial (que perdeu quase 90% de seu valor em relação ao dólar em três anos) não para, levando a uma inflação galopante.

A República Islâmica frequentemente chama de mentiras as alegações de Washington de que suas sanções não afetam a população iraniana.

Oficialmente, a linha das autoridades é clara. Trump, que aspira a um segundo mandato, e seu adversário democrata, Joe Biden, são as duas faces da mesma moeda: a do sistema de "arrogância internacional", do "Grande Satã", ou simplesmente do "inimigo".

Nas ruas de Teerã, porém, a população não esconde que espera que Biden vença.

Diante de um Donald Trump que continuaria sua política de "pressão máxima", caso fosse reeleito, Joe Biden indicou, no primeiro debate, que gostaria de propor "ao Irã um caminho confiável de volta à diplomacia". A possibilidade de reincorporação dos Estados Unidos ao acordo de Viena estaria, então, sobre a mesa.

Se Biden vencer, "há esperança [de que] volte ao acordo", negociado e selado durante sua gestão como vice-presidente de Barack Obama, diz Mohamad Ali Kiani, outro estudante de geopolítica de 28 anos.

"Em geral, a população acredita que uma vitória de Biden [...] seria melhor para o Irã", constata Esmaili, a jornalista do "Sharq".

"O que as pessoas realmente esperam é que sua situação econômica melhore. Eles não se importam com quem está na Casa Branca", pontua Maziar Josravi, um jornalista independente.

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