INTERNACIONAL

Em Minneapolis, refugiados africanos choram o fim do "sonho americano"

Seu "sonho americano" já estava gravemente ferido, mas a morte de George Floyd causou-lhe um golpe fatal

AFP
01/06/2020 às 13:49.
Atualizado em 27/03/2022 às 21:57

Seu "sonho americano" já estava gravemente ferido, mas a morte de George Floyd causou-lhe um golpe fatal.

Indignados com a violência policial e o racismo, muitos refugiados africanos estão marchando com seus "irmãos" em Minneapolis há uma semana.

"Vim para cá porque meu país estava em guerra e acabei com duas crianças que têm medo porque não são brancas", conta chorando de raiva Tiha Jibi, que fugiu do Sudão do Sul aos 15 anos de idade.

Sua família teve muita dificuldade em deixar seu país. Mas acreditava que nos Estados Unidos encontraria a paz, a democracia e a igualdade que não existe na África.

"Era mentira, temos que encará-la", diz essa mãe, ao participar de muitos eventos organizados em homenagem a George Floyd, um afro-americano de 46 anos que morreu na segunda-feira passada durante uma prisão por policiais brancos.

"Sou refugiada, mas não sou branca", diz.

O estado de Minnesota, onde fica Minneapolis, tem a maior taxa de refugiados per capita nos Estados Unidos: abriga 2% da população americana, mas 13% dos refugiados presentes no país, segundo dados do censo.

Entre eles, uma grande comunidade do Chifre da África, etíopes e somalis, fáceis de distinguir nos protestos pelas roupas coloridas usadas pelas mulheres.

Mais uma pessoa que clama por justiça em frente a uma delegacia de polícia, Deka Jama, uma somali de 24 anos que chegou aos Estados Unidos em 2007, reclama que sofre várias discriminações.

Antes de vir para os Estados Unidos, "pensávamos que todos seríamos iguais, que não seríamos julgados por nossa religião, nossa cor, nossas roupas. Mas não foi assim que fomos recebidos", diz ela, envolta em um véu devido à sua fé muçulmana, como seus amigos que a acompanham.

Hoje, essa jovem se sente muito próxima dos descendentes de escravos, americanos por gerações: "Há algo que nos une: somos todos desumanizados" por parte da população, afirma.

No entanto, a comunidade somali em Minnesota tem um motivo de orgulho: Ilhan Omar, nascida em Mogadíscio há 37 anos e naturalizada americana, foi eleita para a Câmara dos Representantes em 2018.

Mas ela também foi vítima de racismo, ameaças de morte, campanhas difamatórias. Em meados de 2019, o presidente Donald Trump até ordenou que "voltasse ao seu país", fingindo não saber que seu país é agora os Estados Unidos.

Na semana passada, Omar foi convidada muitas vezes a programas de televisão para comentar sobre a morte de Floyd. E continuou apontando que, além da violência policial, é necessário abordar todas as desigualdades no país.

"Muitas pessoas estão sofrendo miséria econômica e social", disse Omar, uma figura da ala esquerda do Partido Democrata, no domingo.

Segundo o site de dados demográficos Minnesota Compass, as famílias africanas no estado são particularmente afetadas pela pobreza.

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