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Em Halabja, no Iraque, ainda se espera por justiça 33 anos após ataque químico

Hawker Saber usa um respirador 20 horas por dia. Trinta e três anos após o ataque químico perpetrado pelo regime de Saddam Hussein, esse curdo continua sofrendo, assim como toda a cidade iraquiana de Halabja, onde as pessoas continuam pedindo por justiça

AFP
18/03/2021 às 10:44.
Atualizado em 22/03/2022 às 08:04

Hawker Saber usa um respirador 20 horas por dia. Trinta e três anos após o ataque químico perpetrado pelo regime de Saddam Hussein, esse curdo continua sofrendo, assim como toda a cidade iraquiana de Halabja, onde as pessoas continuam pedindo por justiça.

Hawker tinha apenas três anos na época, mas guarda lembranças do terrível 16 de março de 1988. Naquele dia, durante cinco horas, a aviação iraquiana lançou uma mistura de gases de combate - incluindo mostarda - sobre homens, mulheres, crianças, casas e fazendas, de acordo com especialistas.

Já que os peshmerga, combatentes curdos, apoiaram o exército iraniano na guerra contra o Iraque, cerca de 5.000 curdos-iraquianos, em sua maioria mulheres e crianças, foram mortos no mais sangrento ataque com gás contra civis.

Muitos morreram naquele dia, mas o restante dos habitantes de Halabja - atualmente 200.000 - parecem nunca ter encerrado aquele dia de desgraça.

"Ainda há 486 doentes graves por causa do ataque químico a Halabja", situada menos de 250 km a nordeste de Bagdá, como conta à AFP Loqman Abdelqader, presidente da Associação das Vítimas do ataque.

"Eles têm dificuldades respiratórias e problemas visuais", acrescenta o curdo, que perdeu seis parentes no ataque.

"Nem as autoridades federais, nem as curdas no Iraque criaram um programa de atendimento para salvá-los", acusa Abdelqader.

Até a chegada da pandemia da covid-19, era o Irã que a cada ano assumia o atendimento de vários pacientes, mas sempre com uma proposta a conta-gotas.

Além dos doentes, em Halabja há outra questão delicada não resolvida: a das crianças que foram oficialmente transferidas para um lugar seguro no Irã, a menos de dez quilômetros dali.

Trinta e três anos depois, "142 crianças ainda estão desaparecidas", explica à AFP Ayad Arass, responsável pela Comissão de Proteção à Criança no local.

Suiba Mohamed pede justiça para todos esses crimes. Este curdo, de 60 anos, foi até Bagdá em 2006 para testemunhar contra o primo e cúmplice de Saddam Hussein, o general Ali Hassan al Majid, o famoso "Ali, o químico".

Quatro anos depois, "Ali, o químico" foi enforcado, principalmente por causa do massacre de Halabja - que ele justificou como uma necessidade da guerra contra o Irã - mas a vida de Suiba, que perdeu cinco de seus filhos, assim como a própria visão, não mudou.

"Durante anos, as autoridades prometeram me enviar ao exterior para fazer uma cirurgia e, finalmente, ver os rostos dos meus filhos ainda vivos", relata à AFP.

"Mas ninguém cumpriu com a palavra", ressalta entre soluços.

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