Projeto Heróica

"Ela tem que estar forte"

Segundo a presidente, objetivo é tornar a mulher forte, independente emocional e financeiramente

Ana Cristina Andrade
10/04/2022 às 11:22.
Atualizado em 10/04/2022 às 11:24

‘Quando ela está absolutamente dependente, o risco de violência é mais comum e ela tem que estar mais forte’ (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)

Juliana (nome fictício) foi vítima de violência por parte do namorado. Na época, segundo ela, os dois moravam juntos e ela relata que se sentida dentro de uma nuvem negra, porque não via saída. Ao saber da existência do projeto "Heróica", ela fez contato e passou a ser assistida por psicóloga e advogado. 

A mulher conta que, no início, se culpava por suas fraquezas, mas, após o atendimento disponibilizado pelo projeto conseguiu se fortalecer e deu um basta no relacionamento tóxico. Hoje, ela não tem nenhum relacionamento amoroso e diz estar se conhecendo primeiro.

Luzia (nome também fictício), vítima de violência sexual, diz que foi encaminhada pela Delegacia de Defesa da Mulher. "Fui apoiada pela psicóloga e pela doutora Simone, que me acompanhou pessoalmente na audiência e me instruiu em todos os meus passos. 

"Sou tão grata a tudo o que fizeram por mim. Nunca paguei nenhum centavo e fui acompanhada até a prisão e condenação do agressor". O trabalho do projeto, segundo a presidente Simone Seghese, é tornar a mulher forte, independente emocional e financeiramente. 

A equipe Heróica, através de dois núcleos básicos - psicologia e trabalho e renda -, atua pela igualdade e equiparação de gêneros na sociedade brasileira. O Heróicas engloba turmas sucessivas de diálogos de psicologia. 

As psicólogas, por meio de grupos ou mentorias individualizadas, atuam no fortalecimento emocional das mulheres. O núcleo de trabalho e renda atua em grupos de identificação de habilidades, organização e plano de renda, negócios e carreira.

"O projeto é ligado à mulher vulnerável, independente da situação financeira dela. Se a mulher está precisando de um apoio, de uma mentoria, a gente oferece dois tipos: mentoria jurídica e acompanhamento psicológico. Hoje são oito psicólogas formadas que dão quase um semestre de tratamento", destaca Simone. 

De acordo com a presidente, cada psicóloga atende voluntariamente uma assistida, em seu próprio consultório, podendo ser online ou presencial. "Nós não fazemos processos, nem ação judicial. A gente explica sobre a lei Maria da Penha, o que vai acontecer depois que a vítima faz o Boletim de Ocorrência, e até como vai ficar a questão de alimentos que é uma preocupação para as mulheres que têm filhos", enfatiza.

Quando as mulheres querem fazer denúncia e não têm coragem, segundo Simone, as responsáveis pelo projeto vão com elas à delegacia. 

"Se são vítimas de estupro, por exemplo, a gente acompanha no exame do corpo de delito, mas não fazemos ação". Se há necessidade de uma ação social, de acordo com Simone, o caso é encaminhado para a Defensoria. 

"Quando a mulher pode pagar, temos escritórios de advocacia cadastrados e que são especializados nessa demanda. A mentoria é que é feita através do projeto", explica.

Se a mulher quer se capacitar profissionalmente, segundo a responsável pelo projeto, ela é encaminhada para a Semtre (Secretaria Municipal de Trabalho e Renda). Lá ela pode estudar, montar um currículo e ter uma profissão para sair da situação de vulnerabilidade.

Como nasceu o Heróicas

De acordo com Simone Seghese, o projeto teve início, efetivamente, em 2014. Por ano, são acompanhadas entre 20 e 30 mulheres. "Quando a gente colocava as alunas de psicologia e direito havia muito mais. Agora, fazemos atendimento mais privilegiado, mais técnico e por isso temos um limite de alcance", conta.

No momento, segundo ela, há 15 vítimas com atendimento psicológico e 15 no jurídico, simultaneamente. "É importante ressaltar que temos atendimento quase que diariamente, mas são o que chamamos de pequenos atendimentos, ou seja, de orientação, explicação sobre os direitos delas, mas esses nem são computados".

As vítimas procuram o projeto, por meio das mídias ou por encaminhamento da própria delegacia, depois que o B.O é gerado. 

Surgimento

Simone conta que o projeto nasceu de seus estudos de mestrado e doutorado sobre a razão de as mulheres estarem ainda nessa situação de vulnerabilidade, ou se submeterem a certos tratamentos dados por seus companheiros.

"Começamos a estudar essa questão e vimos como podíamos amparar. O jurídico, junto com a psicologia atua também no preventivo dando palestras sobre o fato de a mulher estar completa antes de entrar em um relacionamento, porque quando ela está absolutamente dependente o risco de violências, nem sempre as físicas, é mais comum. Então ela tem que estar mais forte".
Esse ano, de acordo com a presidente do Heróicas, estão sendo realizadas rodas de conversas com homens, também com dependentes químicos, “no sentido de tentar desconstruir esse machismo que agride e potencializa as situações de inferioridade da mulher”.

Currículo

Simone Seghese é advogada feminista que estuda os impactos da falta de paridade entre os gêneros, há 10 anos. É autora do livro "Lideranças femininas: uma nova forma de gestão".

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