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E se a China votar em Trump?

Apesar de o primeiro mandato de Donald Trump ter sido uma calamidade para a China, Pequim pode ver com bons olhos a reeleição do presidente americano, apostando no declínio irreversível de seu grande rival estratégico

AFP
20/10/2020 às 10:05.
Atualizado em 24/03/2022 às 10:06

Apesar de o primeiro mandato de Donald Trump ter sido uma calamidade para a China, Pequim pode ver com bons olhos a reeleição do presidente americano, apostando no declínio irreversível de seu grande rival estratégico.

Oficialmente, Pequim não tem preferências entre Donald Trump e Joe Biden. Alguns analistas acreditam, no entanto, em uma vitória do republicano e no decorrente enfraquecimento dos EUA e do Ocidente, um cenário que poderia acelerar o ascensão da China ao nível de primeira potência mundial.

Os chineses "esperam que você seja reeleito, porque você faz dos Estados Unidos um país excêntrico e, por fim, odiado no mundo inteiro", tuitou em maio o editor-chefe do jornal nacionalista "Global Times", Hu Xijin, referindo-se ao presidente americano.

"Você reforça a unidade da China", completou.

As relações bilaterais se esfriaram enormemente no governo Trump. Em um ambiente de "guerra fria", Washington fechou, no fim de julho, um consulado da China em seu território, e Pequim fez o mesmo alguns dias depois.

O vice-ministro chinês das Relações Exteriores, Qin Gang, afirma: "Não nos importamos com quem está na Casa Branca. O que queremos é uma relação calma e melhor com os Estados Unidos".

Ainda assim, ele lembrou aos repórteres, na quinta-feira passada, que "as relações China-EUA também eram problemáticas com os democratas em muitos temas".

O presidente Trump, um republicano, teve a China no centro das atenções durante sua campanha e causou grande mal-estar entre seus dirigentes ao falar do "vírus chinês" para se referir ao novo coronavírus.

No plano diplomático, Trump é "incontrolável e incompreensível" para Pequim, observa o especialista chinês Philippe Le Corre, da Harvard Kennedy School, nos Estados Unidos.

Mas "o interesse da reeleição de Trump está na continuação quase automática de sua política "America First", que, em parte, isola Washington de seus aliados tradicionais", explicou ele à AFP.

"Evidentemente, é coerente pensar que as elites chinesas se alegrem com o enfraquecimento dos Estados Unidos, já que é seu grande rival", completou.

Além disso - acrescenta -, eles esfregam as mãos diante das divisões ocidentais.

"Um dos objetivos estratégicos de Pequim é enfraquecer a Aliança Atlântica [Otan], que embarcou em uma jornada à deriva sob a administração Trump", disse Theresa Fallon, diretora do Centro de Estudos Rússia-Europa-Ásia (CREAS), em Bruxelas.

Desde a chegada de Donald Trump ao poder, em janeiro de 2017, o presidente chinês, Xi Jinping, tem procurado projetar a imagem de um líder responsável, defendendo o livre-comércio, em Davos, para a aprovação dos meios empresariais, irritados com o protecionismo de Washington.

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