A busca por uma vacina contra a Covid-19 avança a uma velocidade sem precedentes, numa competição mundial que envolve um grande interesse financeiro
A busca por uma vacina contra a Covid-19 avança a uma velocidade sem precedentes, numa competição mundial que envolve um grande interesse financeiro. Mas deve-se tomar cuidado com anúncios rapidamente descartados e expectativas frustradas.
Em seu relatório mais recente, a OMS cita 25 "candidatas a vacina" que estão sendo avaliadas a partir de testes clínicos em pessoas. A maioria se encontra na "fase 1" (avaliar a sua segurança) e outras, na "fase 2", em que a questão da eficácia já é explorada.
Apenas quatro candidatas a vacina encontram-se na etapa mais avançada, a "fase 3", em que sua eficácia é avaliada em larga escala. A empresa americana Moderna iniciou ontem esta fase, durante a qual serão testados 30 mil voluntários.
Em meados do mês, dois projetos chineses também entraram na fase 3: o do laboratório Sinopharm, testado em 15 mil voluntários nos Emirados Árabes, e o do laboratório Sinovac, testado em 9 mil profissionais de saúde brasileiros, em associação com o instituto Butantan.
O quarto projeto que se encontra na fase 3 é europeu, desenvolvido pela Universidade de Oxford, em cooperação com a empresa AstraZeneca. Ele está sendo testado em Brasil, Reino Unido e África do Sul.
Além dos testes já iniciados, a OMS contabiliza 139 projetos de vacinas candidatas que se encontram em fase de desenvolvimento pré-clínico.
Há diferentes enfoques. Algumas equipes trabalham em vacinas convencionais, que usam um vírus inativado, como as do Sinovac e Sinopharm. Também há vacinas baseadas em proteínas (antígenos), que desencadeiam uma resposta imunológica sem vírus.
As chamadas de "vetor viral" são as mais inovadoras: outro vírus é usado como suporte e ele é transformado e adaptado para combater a Covid-19. Esta é a técnica pela qual optou a Universidade de Oxford, que usa um adenovírus proveniente de chimpanzés.
Outros projetos inovadores se apoiam em vacinas de "DNA" ou "RNA", produtos experimentais que usam partes de material genético modificado, como é o caso da empresa Moderna.
"Cuanto mais candidatos houver e, principalmente, quanto mais tipos diferentes de candidatos a vacina houver, mais teremos chances de conseguir alguma coisa", assinala Daniel Floret, vice-presidente da Comissão Técnica de Vacinações, ligada à Alta Autoridade de Saúde (HAS) francesa.
Os resultados preliminares de duas candidatas - a de Oxford e a da sociedade chinesa CanSino - foram publicados no último dia 20 na revista médica "The Lancet". Ambos são considerados promissores, pois provocam "uma forte resposta imunológica", desencadeando a produção de anticorpos e linfócitos T (células especializadas do sistema imunológico).