INTERNACIONAL

Dolarização formal na Venezuela, uma 'camisa de força' que Maduro rejeita

Na Venezuela tudo, absolutamente tudo, pode ser pago em dólar: um chocolate, a gasolina, um táxi. Embora tenha sido proibido durante 15 anos, o dólar ganha cada vez mais força em um país arruinado por anos de recessão e hiperinflação

AFP
09/12/2020 às 15:52.
Atualizado em 24/03/2022 às 04:01

Na Venezuela tudo, absolutamente tudo, pode ser pago em dólar: um chocolate, a gasolina, um táxi. Embora tenha sido proibido durante 15 anos, o dólar ganha cada vez mais força em um país arruinado por anos de recessão e hiperinflação.

Ninguém quer os bolívares, a desvalorizada moeda nacional.

Mas o presidente Nicolás Maduro afirmou na terça-feira que "na Venezuela não existe uma dolarização da economia porque a moeda oficial não é nem nunca será o dólar".

Ele acredita que este modelo de "dolarização das atividades comerciais foi uma válvula de escape" dentro de uma "economia de guerra e resistência" em meio a uma avalanche de sanções, que inclui um embargo de petróleo dos Estados Unidos, a quem responsabiliza pela crise.

Mais de 65% dos pagamentos em dinheiro feitos na Venezuela são em dólar, disse à AFP o economista Asdrúbal Oliveros, diretor da empresa Econoalítica.

"Na Venezuela, há uma dolarização transacional bastante avançada. Podemos chegar à dolarização financeira na qual os bancos entram", destacou.

Os bancos nacionais podem abrir contas poupança em dólar, que não rendem juros nem têm um fundo de garantia. Além disso, o Banco Central da Venezuela (BCV) proibiu instrumentos de pagamento eletrônico em moeda estrangeira.

As transações em dólar em espécie ou entre contas estrangeiras são mais frequentes.

Mesmo que agora Maduro a descarte, seria a dolarização formal a solução para a crise?

A economia venezuelana, que enfrenta seu sétimo ano em recessão, caiu para a metade e a inflação em 12 meses fechou em novembro em mais de 4.000%, segundo o Parlamento opositor, que divulga seus próprios números devido à demora constante do BCV para publicar indicadores econômicos.

Oliveros considera que uma dolarização completa, como fez o Equador, seria uma "camisa de força" que Maduro não estaria disposto a vestir.

"É possível ter uma dolarização avançada sem renunciar a sua moeda", apontou. Maduro "nunca vai renunciar a emitir uma moeda, porque esse é um nível de liberdade muito importante para ele".

O governo perderia a capacidade de imprimir sua própria moeda, um mecanismo que hoje lhe permite pagar as despesas públicas, mesmo que ao custo de aumentar a inflação.

Oliveros explicou que o estado atual dos cofres venezuelanos, com a queda exorbitante das receitas de petróleo, impede também dolarizar os salários públicos e aposentadorias.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por