Com os aviões em terra, as companhias aéreas recorreram a enormes auxílios estatais e empréstimos para evitar falências
Com os aviões em terra, as companhias aéreas recorreram a enormes auxílios estatais e empréstimos para evitar falências. Mas, como a recuperação do tráfego aéreo deve ser lenta, podem afundar sob o peso da dívida.
Em abril, no auge da pandemia de coronavírus, o tráfego mundial "atingiu o fundo do poço", com uma queda de 94% em relação ao ano passado, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), que prevê um declínio de mais de metade da receita este ano.
As empresas pediram ajuda ao Estado.
De um total de US$ 123 bilhões em auxílios estatais, terão que pagar US$ 67 bilhões e o montante total da dívida do setor será de "quase US$ 550 bilhões, ou um aumento maciço de 28%", segundo a IATA.
A Air France obteve 7 bilhões de euros (7,9 bilhões de dólares) em empréstimos, a Lufthansa 9 bilhões de euros (10,1 bilhões de dólares), dos quais 3 bilhões em empréstimos, as empresas americanas 50 bilhões de dólares em auxílio, dos quais 25 bilhões em empréstimos.
Algumas já afundaram, como as duas maiores companhias aéreas da América Latina, LATAM e Avianca, mas também a Virgin Australia, a South African Airways ou a Thai Airways. "Onde os governos demoraram a reagir ou o fizeram com fundos limitados", de acordo com o CEO da IATA, Alexandre de Juniac.
"Hoje temos uma crise de liquidez, que é gerenciada principalmente com empréstimos estatais, com subsídios. Mas essa crise de liquidez se transformará rapidamente em uma crise da dívida e provavelmente haverá empresas que não serão capazes de se recuperar", prevê Bertrand Mouly-Aigrot, especialista no transporte aéreo da Archery Strategy Consulting.
"O próximo desafio será impedir que as companhias aéreas afundem sob o peso da dívida", diz De Juniac.
As agências de classificação financeira S&P Global Ratings e Moody"s rebaixaram os ratings de solidez financeira de muitas empresas, como Lufthansa, IAG, Aeroméxico e GOL, incluídas na categoria de investimentos especulativos.
A dívida do grupo IAG (British Airways, Iberia) provavelmente dobrará até o final de 2020, para 15 bilhões de euros (17 bilhões de dólares), enquanto a TAP portuguesa poderá deixar de cumprir seus compromissos financeiros para julho, prevê a S&P.
Já a companhia aérea de baixo custo Ryanair entrou na crise com alta liquidez e dívidas muito baixas, observa a agência.
Nos Estados Unidos, o presidente da Boeing, David Calhoun, causou alvoroço em meados de maio, estimando o colapso de uma grande empresa americana "altamente provável".
O gabinete CFRA Research explica em uma nota que "confia muito" que a Delta e a Southwest Airlines sobrevivam à crise, mas é menos claro com a United e especialmente com a American Airlines, considerada em "alto risco" porque entrou na crise muito endividada.
Com uma recuperação muito gradual do tráfego, as receitas serão limitadas.