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Dez anos após a morte do irmão na Tunísia, Leila Bouazizi pede que a luta continue

Os jovens tunisianos devem continuar "a se manifestar" por uma vida decente. Para a irmã do vendedor ambulante tunisiano Mohamed Bouazizi, cuja autoimolação há dez anos deu início à Primavera Árabe, a revolução não terminou

AFP
07/12/2020 às 10:41.
Atualizado em 24/03/2022 às 03:22

Os jovens tunisianos devem continuar "a se manifestar" por uma vida decente. Para a irmã do vendedor ambulante tunisiano Mohamed Bouazizi, cuja autoimolação há dez anos deu início à Primavera Árabe, a revolução não terminou.

Leila Bouazizi, de 34 anos, originária de uma família modesta de Sidi Bouzid, capital de uma região desfavorecida do centro-oeste da Tunísia que se tornou a casa da Revolução de Jasmim, respondeu a perguntas da AFP em Quebec, aonde ela chegou como estudante em 2013.

Enquanto relembra o ato de seu irmão mais velho, ela é categórica: apesar da democratização em marcha, a revolução não permitiu responder aos problemas principalmente "econômicos" que a motivaram. "Muito decepcionada", ela "espera que isso mude".

Assim como muitos jovens desempregados, Mohamed Bouazizi, então com 26 anos, ganhava a vida com um pequeno comércio informal de venda de frutas e legumes.

Em 17 de dezembro de 2010, ele se auto-imolou com fogo depois que a polícia apreendeu mais uma vez sua mercadoria e a carroça que lhe servia de barraca.

Quando foi pleitear seu caso junto às autoridades locais, "ele não teve resposta". Mohamed estava "realmente muito irritado", lembra-se Leila. "Foi por isso que ele pegou a gasolina", acrescenta. Ele sucumbiu a seus ferimentos no começo de janeiro de 2011.

"Foi um acúmulo de coisas que o fez explodir", explica a irmã.

Este gesto de desespero foi o estopim para as manifestações em Sidi Bouzid, que se estenderam para todo o país, apoiadas pela força de mobilização do sindicato UGTT e pela caixa de ressonância das redes sociais.

Depois de um mês de uma revolta popular sem precedentes, o presidente Zine El Abidine Ben Ali, no poder há 23 anos, foge em 14 de janeiro de 2011.

"Após a imolação do meu irmão, todo mundo (...) protestou contra o sistema", lembra Leila, ressaltando o que Mohamed viveu e denunciando "a mesma situação" vivida por muitos jovens.

"Não foi apenas o meu irmão, há muita gente que perdeu a vida" reivindicando melhores condições de vida.

Após a morte de Mohamed, a família Bouazizi foi alvo de assédio e "muitas ameaças", inclusive de morte, pelas redes sociais ou na rua da parte de críticos da revolução.

Invejados, também foram acusados de terem se aproveitado da morte de um jovem para enriquecer. "Era perigoso", diz ela, e sua mãe, seus irmãos e irmãs foram ao seu encontro em Quebec, no Canadá, onde eles se "integraram bem". Desde então maquinista da aeronáutica em Montreal, Leila continua a acompanhar, do exílio, as transformações na Tunísia.

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