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'Deus, o mar e nós': crônica de uma travessia do Canal da Mancha

Inglaterra! Depois de anos vagando, semanas de espera em um campo insalubre na costa francesa e sete horas de angústia em um precário barco inflável pelo Canal da Mancha, o kuwaitiano Walid alcançou seu objetivo e superou a travessia da "rota da morte"

AFP
21/09/2020 às 18:29.
Atualizado em 25/03/2022 às 00:10

Inglaterra! Depois de anos vagando, semanas de espera em um campo insalubre na costa francesa e sete horas de angústia em um precário barco inflável pelo Canal da Mancha, o kuwaitiano Walid alcançou seu objetivo e superou a travessia da "rota da morte". Seu amigo, Falah, ainda espera.

De Grande-Synthe (norte da França) a Dover (sul da Inglaterra), passando pelas águas territoriais francesas, as equipes da AFP acompanharam por três semanas Walid, seu amigo iraquiano Falah e suas duas filhas, Arwa, de 9 anos e Rawane, de 13, que sofre de uma diabetes grave.

Os 33 km que separam a Costa de Opala francesa dos penhascos de Dover, no litoral britânico, têm a reputação de ser uma das rotas marítimas mais frequentadas e perigosas do mundo.

Entretanto, desde 2018 as tentativas de travessia se multiplicam. Entre 1º de janeiro e 31 de agosto, 6.200 migrantes - segundo a prefeitura marítima francesa do Canal da Mancha e do Mar do Norte - tentaram a sorte em um barco inflável, no caso dos mais afortunados, em um caiaque ou mesmo em uma simples boia.

Em uma vegetação rasteira perto de uma ferrovia em Grande-Synthe, cidade do norte da França, sob uma barraca oscilante feita de lonas de plástico, o kuwaitiano Walid, de 29 anos e o iraquiano Falah, de 50, dependem de seus celulares para viver.

É seu único vínculo com a pessoa que dará o sinal verde para que embarquem. Em troca de 3.000 euros por pessoa, poderão subir a bordo de um "barco pequeno" - aqueles botes infláveis com pequenos motores de qualidade duvidosa.

A silhueta do traficante aparece no telefone no momento em que chega uma ligação do WhatsApp. Eles nunca o viram. Essas redes criminosas, geralmente curdas ou albanesas, usam intermediários para estabelecer contato.

- "Como vai tudo, irmão?

- Bem, graças a Deus.

- Tem novidades?

- Não...

- Amanhã, insha"Allah (se Deus quiser, em árabe)?

- Insha"Allah (...). Se amanhã o tempo estiver bom, vamos".

Já faz um mês que Walid espera junto com a família de Falah, a qual conheceu no trajeto do exílio em Frankfurt, uma travessia clandestina que seria o caminho para uma vida melhor.

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