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Deslocados sírios preferem as ruínas ao risco de coronavírus nos campos superlotados

Sua casa no noroeste da Síria está em ruínas, mas Hassan Jraybi e seus dez filhos decidiram voltar à cidade natal devastada pela guerra, como muitas outras pessoas deslocadas, que estão deixando áreas superlotadas por medo do novo coronavírus

AFP
16/04/2020 às 09:08.
Atualizado em 31/03/2022 às 03:47

Sua casa no noroeste da Síria está em ruínas, mas Hassan Jraybi e seus dez filhos decidiram voltar à cidade natal devastada pela guerra, como muitas outras pessoas deslocadas, que estão deixando áreas superlotadas por medo do novo coronavírus.

Aproveitando um cessar-fogo na província de Idlib, esse pai retornou a Ariha, onde se estabeleceu em um pequeno apartamento que um conhecido lhe emprestou.

"Estávamos no norte [de Idlib], onde os campos de deslocados internos estão superlotados", explica o homem de quarenta anos, corpulento e com a pele queimada pelo sol.

"Tivemos medo da disseminação do coronavírus. Decidimos voltar, mesmo com nossas casas destruídas", conta.

Oficialmente, nenhum caso de COVID-19 foi registrado na província de Idlib e seus arredores, a última grande fortaleza jihadista e rebelde na qual vivem cerca de três milhões de pessoas.

Mas as ONGs temem uma catástrofe humanitária se o vírus se espalhar nesta região, especialmente nos campos lotados onde famílias vivem na miséria, com acesso limitado à atenção médica e água limpa.

Apesar de sua casa ter sido reduzida a uma montanha de concreto, Hassan escolheu voltar para Ariha. E todos os dias, percorre com seu caminhão-pipa as ruas devastadas da cidade, para vender água aos habitantes que, como ele, apostam em voltar.

A família de Hassan estava entre os quase um milhão de deslocados registrados pela ONU, que foram expulsos de suas casas por uma ofensiva que o regime e seu aliado russo relançaram em dezembro no noroeste da Síria.

Muitos fugiram para o norte da província de Idlib, na fronteira com a Turquia, considerada a mais segura.

Hassan e sua família viveram ali por dois meses, estabelecendo-se por um tempo em um campo de deslocados perto de Maaret Misrin.

Mas no início de março, quando a epidemia de COVID-19 se espalhava pelo mundo e uma trégua interrompeu a ofensiva do regime, centenas de famílias aproveitaram a oportunidade para voltar a Ariha.

É o caso de Rami Abu Raed, que passou dois meses com sua esposa e três filhos no norte de Idlib.

Lá, a família compartilhava seu alojamento com conhecidos.

"Em cada casa havia três ou quatro famílias morando juntas", conta esse pintor de 32 anos. "Não era viável, especialmente com o coronavírus. Fiquei com medo pelas crianças e voltei", confessa Rami.

Rami viveu dois anos em Ariha, após vários deslocamentos forçados pelas sucessivas ofensivas do regime. Hoje não confia na frágil trégua estabelecida em Idlib.

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