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Deserto beduíno é ponto morto da vacinação em Israel

"Aqui há mais casas destruídas por Israel que pessoas vacinadas". No vilarejo "ilegal" de Tal Arad, em pleno deserto do Neguev, os beduínos não viram um único médico desde o início da pandemia, mas receberam ordens de demolição

AFP
26/02/2021 às 11:33.
Atualizado em 22/03/2022 às 11:45

"Aqui há mais casas destruídas por Israel que pessoas vacinadas". No vilarejo "ilegal" de Tal Arad, em pleno deserto do Neguev, os beduínos não viram um único médico desde o início da pandemia, mas receberam ordens de demolição.

Desde dezembro, Israel aplicou a primeira dose da vacina da Pfizer em mais de 4,5 milhões de seus habitantes (50%) - três milhões já receberam as duas doses. A taxa supera 75% em algumas grandes cidades.

Nos vilarejos beduínos "ilegais" do Neguev, um grande deserto no sul de Israel, a taxa de vacinação é de aproximadamente 2%, segundo os números oficiais.

Em Tal Arad, uma aldeia atravessada por cabras em busca de folhas de erva para pastar, os habitantes parecem estar a anos-luz de distância da luta contra a covid.

"Aqui ninguém está vacinado. Não vimos ninguém do Ministério da Saúde, apenas agentes da polícia e do Ministério do Interior que vieram destruir casas", contou Adnan Al Abari, funcionário da manutenção da escola do vilarejo, que não tem energia elétrica, nem rede hidráulica.

Tal Arad integra uma série de aldeias beduínas, não reconhecidas pelo Estado hebreu e, portanto, sem serviços públicos. Mas a pandemia não impediu a polícia de destruir a casa vizinha de Adnan, reduzida a uma pilha de escombros.

Ele mostra outra casa com um aviso de demolição para o próximo mês.

"Aqui há mais casas destruídas que pessoas vacinadas por Israel. Não enviaram ninguém para que nos expliquem a crise, ou nos ajudem", afirma o pai de cinco crianças, incluindo Youssef, de 12 anos, que não tem aulas por falta de um computador e de uma boa conexão com a Internet.

A instabilidade da Internet não impediu, porém, a propagação de teorias da conspiração no WhatsApp e nas conversas, o que desencoraja a vacinação.

Em Tal Arad, alguns temem que a vacina mude sua genética, com boatos de esterilidade, ou de que o fármaco teria um microchip para permitir a localização por parte dos serviços de segurança de Israel.

Quase 60% dos 290.000 beduínos israelenses moram em vilarejos reconhecidos por Israel. E, apesar da presença de clínicas, escolas e serviços públicos nestas localidades, as taxas de aplicação da primeira dose raramente superam 20%.

"As notícias falsas viajam mais rápido que a informação real", declarou à AFP o médico Mazem Abou Siyam.

"Somos uma comunidade tradicional, e é difícil convencer as pessoas a aceitarem a vacinação, ou que adotem uma nova tecnologia", afirma o coordenador da campanha de vacinação nos territórios beduínos do Neguev, onde algumas localidades permaneceram a salvo do coronavírus, enquanto outras estão na zona vermelha.

Jameh Abou Odeh conseguiu uma pequena vitória. O advogado de 36 anos, que mora em Rahat, principal cidade beduína do Neguev, conversou sobre os benefícios da vacinação com a família e convenceu a mãe a aceitar a primeira dose.

"Todos têm medo da vacina. É uma mistura de medo e confusão sobre os efeitos colaterais", afirma.

"A ignorância" é a principal causa da rejeição à vacinação, declarou o xeque beduíno Ibrahim Leamor, de 70 anos, em Ksufah, vilarejo com taxa de vacinação inferior a 10%.

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