Expectativa é que a temporada não sofra a influência nociva das intempéries
Região de Piracicaba processou 20,3 milhões de toneladas de cana na safra 2024-2025 (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)
Com base nos números da safra 2024/2025, encerrada em março (e considerada uma das melhores em produtividade e preço), os produtores de cana de Piracicaba esperam um bom resultado para a safra 2025/2026 no Centro-Sul, que começou oficialmente no dia 1º de abril. A expectativa é que a produtividade do campo siga crescendo, e a temporada não sofra a influência nociva das intempéries.
A região processou 20,3 milhões de toneladas de cana na safra 2024-2025, bom resultado frente às 18,7 milhões de toneladas processadas de 2023 para 2024, segundo dados fornecidos à Gazeta pela Associação dos Forncedores de Cana de Puracicaba (Afocapi).
O gerente de atendimento da entidade, José Rodolfo Penatti, comenta que a área cultivada se torna mais eficiente com a cessão de glebas que pertencem a conglomerados produtores, ainda que ele seja cauteloso com relação ao otimismo exacerbado no campo. Assim como os analistas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq, que não descartam a possibilidade que a terra ainda sofra, na safra atual, os efeitos das queimadas e temperatura descontrolada da safra passada.
Na avaliação de Arnaldo Antonio Bortoletto, vice-presidente da Coplacana (Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo), a cultura vive um momento positivo, com os processos favorecidos por avanços tecnológicos, investimentos em mecanização e organização dos produtores na busca pela sustentabilidade operacional e financeira.
Para a região de Piracicaba, as expectativas para a safra são boas, impulsionadas pelas recentes chuvas e pela ausência de secas e incêndios severos.
No ano anterior, considera, o cenário foi bem diferente: as intempéries afetaram negativamente grandes regiões produtoras, como a de Ribeirão Preto.
Mecanização e avanço tecnológico
Outro aspecto positivo do setor, segundo Arnaldo, é a mecanização, que revoluciona todas as etapas de produção.
Segundo o vice-presidente da Coplacana, a mecanização foi sendo implementada gradativamente no plantio, no carregamento, e atualmente, na colheita, abrangendo cerca de 95% da área cultivada.
A irrigação, antes pouco utilizada, ganha espaço no setor, demonstrando ser um investimento compensador.
As MPBs (mudas pré-brotadas) nos sistemas de reforma do canavial, como meiosi e a cantosi, têm apresentado boa aceitação e melhora na produtividade. "Recentemente, o plantio de sementes de cana surgiu como uma inovação, trazendo agilidade e simplificando o processo. A transgenia também se consolida como uma realidade para a cana-de-açúcar", diz.
Arnaldo aponta que a esperada boa remuneração do açúcar, influenciada pela produção da Índia e pela normalidade da safra tailandesa, deve impulsionar também o etanol, cada vez mais incentivado entre os consumidores na escolha do combustível.
Financiamento acessível
Em relação aos preços, a instabilidade da taxa de juros representa um desafio, o que leva a Coplacana a orientar os agricultores sobre os cuidados com financiamentos.
Nesse contexto, diz Arnaldo, o programa Prospera Coop, uma parceria da Coplacana com cooperativas de crédito, oferece juros subsidiados e taxas reduzidas aos produtores.
Cepea não descarta efeitos do calor e queimadas da safra anterior
Para a safra que se inicia, a atenção de agentes do setor canavieiro está relacionada à qualidade e à produtividade da cana. De acordo com os analistas do Cepea/Esalq, as lavouras foram prejudicadas pelo clima adverso (quente e seco) ao longo de 2024 e pelos incêndios em agosto/24 na região Centro-Sul, especialmente no estado de São Paulo.
Consultorias e entidades são unânimes em apontar consequências do clima e da queimada para a temporada. As preocupações recaem sobre o desenvolvimento das lavouras, sobretudo as que serão colhidas entre abril e julho, que apresentam germinações desiguais e TCH (toneladas de cana por hectare) menor. Assim, consequências podem e ainda devem afetar o maior ativo das unidades produtoras, que é a produtividade.
Previsões meteorológicas indicam que 2025 deve registrar menos ondas de calor extremo, mas grandes variações de temperatura (semanas mais quentes e outras mais amenas). O volume de chuva pode ser intenso no verão de 2025. Relatório do NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) aponta que, até novembro/24, a probabilidade de o La Niña entrar em ação caiu de 71% para 60%. O atraso significa que os efeitos do fenômeno meteorológico poderão ser sentidos apenas em 2025.
Mas em termos de investimentos, a expectativa é otimista. Novos "greenfield" devem entrar em ação, especialmente em unidades localizadas no Centro-Oeste, dada a importância do Brasil como protagonismo na discussão da transição energética e na diversificação dos tipos de produtos (etanol de segunda geração, biogás, hidrogênioproduzido a partir do etanol e combustível sustentável de aviação).
Em 2025 também deve entrar em vigor a Lei do Combustível do Futuro, que foi sancionada em 8 de outubro e que traz iniciativas para promovera mobilidade sustentável de baixo carbono. O texto estabelece que o percentual de mistura de etanol à gasolina passará a ser dos atuais 27,5% até os 35%, constatada a viabilidade técnica.
Na questão da reforma tributária, apontam os analistas, a simplificação dos tributos pode aumentar a competitividade do etanol frente a outros combustíveis.