INTERNACIONAL

Debate na ONU sobre desarmamento nuclear desperta poucas ilusões

O desarmamento nuclear está no centro das discussões na ONU nesta sexta-feira (2), com poucas esperanças de progresso nesta questão espinhosa, em que o diálogo parece estagnado entre Estados Unidos e Rússia

AFP
02/10/2020 às 13:48.
Atualizado em 24/03/2022 às 11:16

O desarmamento nuclear está no centro das discussões na ONU nesta sexta-feira (2), com poucas esperanças de progresso nesta questão espinhosa, em que o diálogo parece estagnado entre Estados Unidos e Rússia.

Ambos os países detêm 90% das armas nucleares do mundo.

"Hoje, o risco do uso de armas nucleares - intencionalmente, por acidente, ou por erro de cálculo - é maior do que nunca, desde os dias mais sombrios da Guerra Fria", alerta a ONU, que lista "a deterioração das relações entre os Estados nucleares, o papel crescente das armas nucleares nas estratégias de segurança nacional, os avanços tecnológicos e a erosão do regime de não proliferação".

"Infelizmente, o progresso para a eliminação total das armas nucleares está paralisado e corre o risco de ser comprometido", alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em discurso antes do início da reunião.

A erosão da arquitetura de controle de armas nucleares, em um contexto de crescentes tensões internacionais, deixa pouco espaço para otimismo.

O Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermediário de 1987 - firmado entre Washington e Moscou e que resultou na destruição de cerca de 2.700 mísseis com um alcance entre 500 e 5.500 km - está morto, de fato, desde 2019, para grande desgosto dos europeus.

Desde então, o tratado russo-americano "New Start" concluído em 2010, que expira no início de 2021, é considerado o último acordo nuclear ainda em vigor, limitando os arsenais de ambos os países abaixo de seus picos da Guerra Fria. No entanto, sua extensão permanece altamente incerta.

"Se o New Start acabar, pela primeira vez não haverá mais perspectiva de redução dos arsenais nucleares", diz Emmanuelle Maître, especialista em não proliferação nuclear, dissuasão e desarmamento da Fundação para Pesquisa Estratégica.

"Não podemos estar muito otimistas com esse tratado em sua configuração atual", explica a pesquisadora.

"O governo Trump impôs muitas condições à sua prorrogação, em particular pedindo a participação da China nas discussões", o que Pequim descartou, acrescentou.

"Quanto à Rússia, não é certo que esteja tão aberta ao diálogo e à negociação como diz", afirma Maître.

O diálogo bilateral entre as duas principais potências nucleares parece ter estagnado e os defensores do desarmamento apostam no sucesso multilateral de 2017, quando 122 países adotaram um tratado nas Nações Unidas que proíbe as armas nucleares.

O Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPNW) já foi ratificado por 46 Estados, aproximando-se das 50 ratificações necessárias para sua entrada em vigor.

O texto ainda está consideravelmente enfraquecido pela ausência entre os signatários das nove potências nucleares mundiais: Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte.

"Os atores e países que apoiam o TPNW estão convencidos de que o tratado pode mudar pouco a pouco as mentalidades, no longo prazo, estigmatizando a posse de armas nucleares", diz Maître.

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