Entre soluços e máscaras, milhares de peregrinos xiitas convergem, neste domingo (30), para a cidade sagrada de Kerbala, no Iraque, para comemorar a Ashura, uma das celebrações mais importantes do mundo muçulmano, em meio à pandemia da covid-19
Entre soluços e máscaras, milhares de peregrinos xiitas convergem, neste domingo (30), para a cidade sagrada de Kerbala, no Iraque, para comemorar a Ashura, uma das celebrações mais importantes do mundo muçulmano, em meio à pandemia da covid-19.
A Ashura comemora o martírio de 680 do imã Hussein, neto do profeta Mohamed, um evento fundador do Islã xiita.
Normalmente, milhões de xiitas do mundo inteiro convergem para a cúpula dourada do imã Hussein em Kerbala, no centro do Iraque, onde oram e choram juntos. Este ano, porém, a pandemia mudou os costumes.
"Isso não tem nada a ver com as celebrações que reuniram milhões (de pessoas) nos anos anteriores", afirmou Fadel Hakim, perto da cúpula dourada.
Apenas pequenos grupos de peregrinos estão reunidos na esplanada em frente à mesquita, vestidos de preto em sinal de luto, como determina a tradição durante a Ashura, e todos usam máscaras de proteção.
Os funcionários usam desinfetante e distribuem máscaras. Antes de entrar no mausoléu, a temperatura dos peregrinos é verificada.
No interior, marcas foram colocadas no tapete para que a distância física seja respeitada durante a oração.
No local onde o imã Hussein está enterrado, porém, os peregrinos encostam seus rostos sem máscaras na treliça que os separa do mausoléu.
Em lágrimas, vários visitantes enxugam o rosto com as mãos nuas, um meio de espalhar o vírus. Muitos também se concentraram em círculos apertados, enquanto se agitavam.
À tarde, os fiéis interpretaram o martírio do imã Hussein, morto pelas tropas do califa omíada durante uma batalha no deserto de Kerbala. Na sequência, uma procissão de peregrinos seguiu em direção à cúpula dourada, sob uma chuva fina de álcool desinfetante.
"Este ano mostraremos ao mundo inteiro que a peregrinação ao mausoléu do imã Hussein é como um milagre. Se Deus quiser, não haverá casos de coronavírus", disse Mohamad Abdulamir, um peregrino sem máscara.
No ano passado, pelo menos 31 pessoas morreram em uma avalanche durante a Ashura.
O número de peregrinos é, de fato, muito menor do que nos anos anteriores, já que autoridades governamentais e religiosas do Iraque, do Irã e do Golfo convocaram peregrinações virtuais e celebrações a serem feitas em casa.
O Irã xiita é o país do Oriente Médio mais atingido pela pandemia, com mais de 20.000 mortos.
Para a Ashura, o governo iraniano proibiu procissões tradicionais, cerimônias em espaços fechados e apresentações musicais, ou banquetes, optando por transmitir rituais religiosos pela televisão.