Um desafio de alta tensão para seu mandato, a estratégia de vacinação da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está repleta de contratempos, do atraso no processo aos problemas na Irlanda do Norte
Um desafio de alta tensão para seu mandato, a estratégia de vacinação da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está repleta de contratempos, do atraso no processo aos problemas na Irlanda do Norte.
Entre as principais questões criticadas está a reversão que a Comissão teve de fazer na sexta-feira em seu mecanismo de controle de exportação de vacinas, que deveria ser aplicado na Irlanda do Norte.
Diante das críticas de Dublin, Belfast e Londres, o Executivo teve que desistir de revogar o protocolo da Irlanda do Norte sob o Brexit, com intuito de evitar uma fronteira e controles alfandegários na ilha da Irlanda.
A própria Von der Leyen admitiu o erro: "Quando se tomam decisões urgentes - neste ano de crise, a comissão tomou quase 900 -, há sempre o risco de se errar em alguma coisa", reconheceu em entrevista a vários jornais europeus.
O Brexit aparece como pano de fundo dessa luta pelas vacinas: esse mecanismo de controle, baseado em uma autorização de exportação do medicamento, havia sido exigido por vários países europeus devido a suspeitas de que as doses fabricadas na UE e reservadas para o mercado europeu eram distribuídas no Reino Unido.
O Executivo europeu, que negociou contratos com fabricantes de vacinas em nome dos 27 estados membros e garantiu mais de 2,2 bilhões de doses - para os 450 milhões de europeus - também foi criticado por ter atrasado a assinatura dos acordos, por não por ter reservado doses suficientes ou por falta de transparência.
Os atrasos de entrega anunciados pela Pfizer/BioNTech e AstraZeneca aumentaram a pressão sobre a Comissão Europeia, na linha da frente perante os Estados Membros, ao mesmo tempo que se confrontava com a impaciente opinião pública.
E os rápidos avanços nas campanhas de vacinação em outros países, como o Reino Unido, os Estados Unidos e Israel, também não ajudaram.
Mas, para Von der Leyen, a estratégia do bloco é "a certa".
"É verdade que alguns países começaram a vacinar um pouco antes da Europa. Mas porque usaram procedimentos de autorização e comercialização em 24 horas. E tanto a Comissão quanto os países da UE concordaram em não ceder às exigências de segurança e eficácia necessárias para autorizar vacinas", explicou nesta terça-feira, em entrevista ao Le Monde.
"A Europa começou depois, mas foi uma boa decisão", acrescentou.
Para Eric Maurice, da Fundação Robert Schuman, a presidente da Comissão "criou altas expectativas", tendo em vista que "sabia-se que todas as vacinas não chegariam em janeiro".
Mas também representa um "bode expiatório fácil para os Estados", segundo este analista. Se a Comissão não estivesse encarregada de negociar para os 27, haveria uma corrida entre os países "muito desestabilizadora para a UE".
A chefe do Executivo comunitário, médica de formação, também é criticada por seus métodos: fontes internas falam da falta de consenso na tomada de decisões e de um gabinete que "trabalha em segredo".