A recente declaração do presidente iraniano Hassan Rouhani de que o novo coronavírus provavelmente infectou 25 milhões de iranianos, muito mais do que o balanço oficial, causou perplexidade e preocupação
A recente declaração do presidente iraniano Hassan Rouhani de que o novo coronavírus provavelmente infectou 25 milhões de iranianos, muito mais do que o balanço oficial, causou perplexidade e preocupação.
O anúncio foi feito no sábado, exatamente cinco meses após o registro dos primeiros casos no país: duas mortes na cidade sagrada xiita de Qom.
"Nossa estimativa é que, até o momento, 25 milhões de iranianos foram infectados com esse vírus", disse Rohani ao Comitê Nacional de Luta contra a Pandemia, referindo-se a um relatório do ministério da Saúde.
E ele alertou que de "30 a 35 milhões" de pessoas correm o risco de contrair a doença, sugerindo que as autoridades esperam que a "imunidade coletiva" bloqueie o vírus no país mais afetado do Oriente Médio.
O balanço da AFP desta quinta-feira, com base em fontes oficias, apontava mais de 15,25 milhões de casos em todo o mundo.
No momento da declaração de Rohani, o ministério da Saúde iraniano contabilizava oficialmente pouco mais de 270.000 casos entre os mais de 80 milhões de habitantes.
O Irã registrou na terça-feira um novo recorde diário de mortes (+229). E lamentava nesta quinta 15.074 óbitos, para 284.034 casos registrados.
Rohani não voltou a falar sobre o assunto. Mas várias autoridades deram sua versão, algumas considerando que os 25 milhões não representavam os casos de infecção, mas pessoas que desenvolveram imunidade após serem "expostas" ao vírus.
Segundo o vice-ministro da Saúde, Réza Malekzadeh, as estimativas mencionadas por Rohani foram baseadas em um estudo de março realizado com "cerca de 10.000 pessoas em 13-14 províncias".
"Desde então, foi demonstrado que a imunidade dessas pessoas era estável, o que significa que elas são como pessoas que foram vacinadas", afirmou Malekzadeh na segunda-feira junto à agência oficial Irna.
Não há vacina contra a COVID-19 disponível atualmente no mercado.
Aliréza Raïsi, também vice-ministro da Saúde, disse na terça-feira que esse número de 25 milhões veio de testes sorológicos para detectar possíveis anticorpos, marcadores de exposição a um coronavírus.
"Muitos estudos foram realizados sobre a COVID-19 e os 25 milhões vêm de um estudo e não devem ser considerados como outra coisa", insistiu.
Optar pela imunidade coletiva "não faz parte da política (iraniana) e os países que o fizeram acabaram se arrependendo", observou Raïsi. "Não haverá imunidade até que tenhamos uma vacina".
Em uma crítica pouco velada, ele estimou que "focar nesses números é um erro estratégico".
Para a especialista em epidemiologia molecular da Universidade de Basileia, Emma Hodcroft, esse nível pode ser significativo porque é consideravelmente mais alto do que em outros lugares.