Centenas de milhares, se não milhões, de mortes por COVID-19 em cada país? Esse cenário sombrio convenceu alguns governos a optarem pelo confinamento, mas vozes se elevam para criticar o "alarmismo" das simulações, em que se basearam
Centenas de milhares, se não milhões, de mortes por COVID-19 em cada país? Esse cenário sombrio convenceu alguns governos a optarem pelo confinamento, mas vozes se elevam para criticar o "alarmismo" das simulações, em que se basearam.
"Demos muito peso a esses modelos", disse à AFP o diretor do Instituto de Pesquisa Biomédica e Epidemiologia do Esporte (Irmes), professor Jean-François Toussaint.
"O caso mais flagrante é o dos 500.000 mortos que convenceram os governos: este é o exemplo típico de um uso não muito sério da ciência", acrescenta outro cientista francês contrário ao confinamento, Laurent Toubiana.
Ele se refere aos trabalhos que tiveram uma influência considerável após a publicação pela Imperial College de Londres em 16 de março. Assinados pela equipe do professor Neil Ferguson, previram até 510.000 mortes na Grã-Bretanha e 2,2 milhões nos Estados Unidos, se nada fosse feito para conter a pandemia.
No processo, França, Reino Unido e outros países europeus optaram por um confinamento estrito.
"Preferimos ouvir as pessoas mais alarmistas", suspira Laurent Toubiana, enfatizando que o número real de mortes está muito abaixo desses piores cenários.
Estes foram desenvolvidos usando modelos e simulações informáticas com base nas informações disponíveis sobre a doença no momento de sua realização (contagiosidade, mortalidade, entre outros).
"Esses modelos matemáticos dependem de muitos fatores para serem confiáveis", afirma o professor Toussaint.
No caso da COVID-19, uma doença nova e, portanto, pouco compreendida, "as condições básicas nos escapam", o que pode levar a "desvios extremamente fortes" entre as previsões dos modelos e a realidade.
No Reino Unido, os modelos de Neil Ferguson se tornaram objeto de uma dura batalha política entre apoiadores e opositores do confinamento.
No começo de maio, aquele que foi apelidado pelos tabloides de "professor confinamento" teve de renunciar como assessor do governo britânico. A causa de sua queda foi a revelação do "Daily Telegraph" de que ele havia violado as regras de confinamento ao autorizar uma mulher, apresentada como sua amante, a visitá-lo.
Além do caso pessoal do professor Ferguson, especialistas em computação criticaram seu modelo, acusado de ser obsoleto e até errôneo.
A Imperial College London respondeu em 1o de junho. Anunciou que este programa informático havia passado por uma avaliação de especialistas independentes, que foram capazes de reproduzir os resultados do famoso relatório de 16 de março.
Uma semana após o anúncio, o restante do relatório foi divulgado na segunda-feira. Sua conclusão: o confinamento permitiu evitar 3,1 milhões de mortes em 11 países europeus, em comparação com as primeiras estimativas de mortes em potencial na ausência de qualquer medida.
"O Imperial Plantage of London tenta justificar seus erros "a posteriori"", atacou o professor Toussaint.