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Confinamento contém coronavírus, mas casos de HIV podem aumentar

Trata-se de um grande paradoxo do confinamento em massa: contém a propagação do novo coronavírus, mas pode indiretamente ajudar outro vírus: o HIV

AFP
13/05/2020 às 23:15.
Atualizado em 30/03/2022 às 00:51

Trata-se de um grande paradoxo do confinamento em massa: contém a propagação do novo coronavírus, mas pode indiretamente ajudar outro vírus: o HIV.

A prioridade absoluta dada ao COVID-19 teve o efeito colateral de enfraquecer a estrutura de prevenção na qual se sustenta o combate à Aids.

Travis Sánchez, epidemiologista da Universidade Emory, fez entrevistas on-line com 1.000 homens homossexuais no início de abril, e metade deles relatou uma diminuição no número de parceiros sexuais e no uso de aplicativos de relacionamento.

Entretanto, Sánchez aponta para outras informações perturbadoras: um quarto disse ter tido problemas para realizar testes de detecção devido ao fechamento de milhares de locais onde eles são feitos. Aqueles que continuam a ter encontros sexuais, portanto, desconhecem seu estado, uma potencial bomba-relógio.

"É muito provável que comportamentos de risco sejam retomados antes que os serviços de prevenção sejam totalmente reabertos", alerta o pesquisador. "Essa combinação pode levar a mais infecções por HIV".

O impacto da pandemia de coronavírus sobre o HIV não será conhecido até o ano que vem, quando os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgarem os números de contágio de 2020.

Vários especialistas e profissionais de saúde pública temem um relaxamento, um ano depois que os Estados Unidos estabeleceram a meta de reduzir o número de novas infecções em 75% até 2025.

Em Washington, cidade muito atingida pelo HIV, a clínica Whitman Walker teve que parar de receber pessoas para serem testadas para esse vírus e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST): sífilis, gonorréia, clamídia.

Antes disso, cerca de 50 pessoas por dia faziam o teste, incluindo muitos homossessuais que tinham a rotina de fazer isso a cada três meses.

"Todas essas pessoas não estão mais sendo examinadas", diz Amanda Cary, uma enfermeira especialista que continua a cuidar de pacientes sintomáticos, apenas com hora marcada. "Tenho certeza de que haverá um aumento nas doenças sexualmente transmissíveis".

O CDC disse à AFP que espera uma queda a curto prazo nos diagnósticos de DST, mas "um aumento a longo prazo depois que as restrições forem removidas e mais testes forem realizados".

No que diz respeito ao HIV, o fechamento dos locais de detecção "poderia causar mais infecções" a longo prazo.

Em San Francisco, o pesquisador médico Matthew Spinelli está preocupado com os sem-teto e com aqueles que não têm mais crédito telefônico ou de Internet para teleconsultas.

"As pessoas têm medo de ir ao hospital agora, isso me preocupa", diz o médico, que trabalha no grande hospital público local. Sua unidade também monitora 3.000 pessoas com HIV.

Ele teme que, no caos da pandemia, alguns possam não mais ir à farmácia ou não fazer mais o tratamento retroviral todos os dias, o que aumentaria suas cargas virais e as tornaria contagiosas. "Receio que a saúde psicológica (dessas pessoas) se deteriore na situação atual ou que seu vício em drogas piore".

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