INTERNACIONAL

China adota 'diplomacia da vacina' para melhorar sua imagem

Cumprindo a promessa do presidente Xi Jinping de "um bem público mundial", a China começou a distribuir suas vacinas em todos os cantos do planeta, para tentar melhorar sua imagem um ano depois do surgimento do novo coronavírus em seu território

AFP
10/12/2020 às 08:52.
Atualizado em 24/03/2022 às 04:01

Cumprindo a promessa do presidente Xi Jinping de "um bem público mundial", a China começou a distribuir suas vacinas em todos os cantos do planeta, para tentar melhorar sua imagem um ano depois do surgimento do novo coronavírus em seu território.

Em contraste com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que assinou na terça-feira um decreto para dar prioridade à distribuição das vacinas nos Estados Unidos, o presidente chinês aparece como um fornecedor de antídotos nos países pobres.

Embora nenhuma vacina chinesa tenha sido aprovada oficialmente até o momento, nem mesmo pelo governo comunista, Pequim multiplica os contratos de fornecimento e já começou a construir, inclusive, unidades de produção no exterior, no momento em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) inicia a investigação sobre a origem do vírus.

"Não há dúvida de que a China está praticando a diplomacia da vacina para restaurar sua imagem", afirma Huang Yanzhong, especialista em questões de saúde pública no "think tank" americano Council on Foreign Relations (CFR).

"É também uma forma de aumentar sua influência e reduzir as tensões geopolíticas", completa.

A diplomacia chinesa assinou acordos para o fornecimento de vacinas para Malásia e Filipinas, dois países em conflito com o gigante asiático por questões de soberania no Mar da China Meridional.

Também prometeu acesso prioritário aos países do Mekong (Mianmar, Laos, Camboja, Tailândia, Vietnã), após as críticas de que suas barragens estão provocando secas no Sudeste Asiático.

Do outro lado, o grande rival Estados Unidos mal se comprometeu a compartilhar suas vacinas com o restante do planeta, apesar dos avanços de seus laboratórios, como Pfizer, Johnson & Johnson, ou Moderna.

Washington é ainda o grande ausente da Covax, iniciativa internacional de distribuição de vacinas contra a covid-19 nos países em desenvolvimento, criada pela OMS. Pequim aderiu à iniciativa em outubro.

A Covax cobrirá a necessidade de apenas 20% da população os países em desenvolvimento até o fim 2021, enquanto os países ricos poderiam ficar com 50% da produção mundial, segundo um estudo do Global Health Innovation Centre da Universidade de Duke, nos Estados Unidos.

A China aspira a ter uma capacidade de produção de um bilhão de vacinas no próximo ano e pode se dar ao luxo de compartilhar seus estoques, pois a pandemia está praticamente contida em seu território.

Além disso, as considerações econômicas estão presentes. A China ficará com apenas 15% do mercado de vacinas nos países pobres, mas isto representaria vendas de 2,4 bilhões de euros (US$ 2,9 bilhões), segundo um cálculo da empresa Essence Securities, de Hong Kong.

"Todos querem uma vacina e Pequim está bem posicionada para enriquecer facilmente", observa um dos analistas da empresa.

A campanha mundial de vacinação precisa de locais de armazenamento que permitam garantir a cadeia de resfriamento, infraestruturas que poderiam provocar a retomada do colossal projeto chinês das "novas Rotas da Seda", debilitado pela pandemia, destaca Kirk Lancaster, do CFR.

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