INTERNACIONAL

Campanha de resistência na polícia russa após prisão de ex-agente

Numa manhã de maio, uma unidade das forças especiais invade um apartamento em Moscou. Seu objetivo: um ex-policial que se tornou um denunciante dos abusos na polícia russa

AFP
03/07/2020 às 09:14.
Atualizado em 26/03/2022 às 21:33

Numa manhã de maio, uma unidade das forças especiais invade um apartamento em Moscou. Seu objetivo: um ex-policial que se tornou um denunciante dos abusos na polícia russa.

Durante cinco horas, os investigadores revistaram a casa de Vladimir Vorontsov, ex-membro do departamento de luta contra o "extremismo", que tem como alvo o islamismo e a oposição.

"Nossa filha acredita que alguns bandidos vieram e levaram seu pai", disse Aleksandra Vorontsova à AFP, descrevendo a operação. Durante a busca, os investigadores até vasculharam os brinquedos, meias e roupas íntimas da filha de quatro anos, explicou ela.

Vladimir Vorontsov é o criador do grupo online Ombudsman da Polícia, um conjunto de contas vinculadas às redes sociais para denunciar abusos cometidos na polícia, que se tornou muito popular, com meio milhão de inscrições.

Entre suas cruzadas está a revelação de atos de corrupção e violência policial, pressão sobre policiais para alcançar cotas e horas extras e casos de suicídio, uma questão delicada sobre a qual não há estatísticas oficiais.

Sua prisão e a de seu colaborador Igor Khudiakov causaram alvoroço incomum entre a polícia russa, cujos 750.000 membros são um dos pilares do sistema dirigido por Vladimir Putin há 20 anos.

O homem de 35 anos, que deixou a polícia em 2017 após 13 anos de serviço, foi preso por extorsão e desde então também foi acusado de distribuir e produzir material pornográfico.

Seus apoiadores asseguram que são acusações falsas fabricadas para encerrar sua atividade como "mediador da polícia".

O mais impressionante na Rússia é que, pela primeira vez, policiais criticaram publicamente as autoridades, o funcionamento e os métodos da força policial.

Nas redes, dezenas de membros e ex-membros das forças de segurança pediram a libertação de Vorontsov. Alguns publicaram sua foto e outros imagens anônimas de seus cartazes de protesto. E isso apesar das possíveis repercussões.

"Se não defendermos Vorontsov agora, as coisas só vão piorar", declarou o ex-inspetor Georgui Zaria, 36 anos.

Ele protestou sozinho - o único ato de protesto público permitido sem autorização prévia - do lado de fora da sede da polícia de Moscou para exigir a demissão de seu chefe. Uma iniciativa que lhe rendeu duas horas de detenção.

Zaria pediu demissão no final de 2018, criticando as longas horas de trabalho, um salário muito baixo e a violação de seus direitos trabalhistas.

Enquanto estava de serviço, criticou o sistema de cotas da polícia, sob o qual os policiais geralmente são incitados a executar um certo número de multas ou prisões.

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