INTERNACIONAL

Brasileiro deixa a direção da OMC e instituição precisa superar crise

O brasileiro Roberto Azevêdo deixa nesta segunda-feira (31) a direção da Organização Mundial do Comércio (OMC), uma instituição em crise e sem comandante, uma situação que pode prosseguir por um tempo maior do que o imaginado devido às eleições nos Estados Unidos, afirmam analistas

AFP
31/08/2020 às 07:37.
Atualizado em 25/03/2022 às 11:41

O brasileiro Roberto Azevêdo deixa nesta segunda-feira (31) a direção da Organização Mundial do Comércio (OMC), uma instituição em crise e sem comandante, uma situação que pode prosseguir por um tempo maior do que o imaginado devido às eleições nos Estados Unidos, afirmam analistas.

O futuro diretor geral da OMC terá desafios importantes como a preparação da conferência ministerial de 2021, a retomada das negociações e a resolução dos conflitos entre a organização e os Estados Unidos. Tudo isso em plena crise econômica mundial provocada pela pandemia do novo coronavírus.

O governo americano considera que a organização trata Washington de forma "injusta" e ameaçou abandonar a OMC. O país deseja uma renovação da instituição e desde dezembro bloqueia o tribunal de apelações de seu órgão de resolução de litígios.

"Estados Unidos querem que o próximo diretor geral compartilhe as preocupações americanas, muitas que envolvem a China. Como o diretor geral é eleito por consenso, esta posição complica a escolha", explica o professor de Relações Internacionais Manfred Elsig, do World Trade Institute em Berna.

"É possível que muitos membros da OMC desejem esperar até depois das eleições, com a esperança de uma mudança de governo", completa.

Azevêdo anunciou em maio que deixaria o cargo um ano antes do fim de seu mandato por "motivos familiares". Oito candidatos estão na disputa para suceder o brasileiro: três africanos, dois europeus, dois asiáticos e um latino-americano.

Mas as tensões internacionais e a crescente politização das eleições para o comando das organizações internacionais podem dificultar o processo de designação do sucessor de Azevêdo.

De 7 a 16 de setembro, a OMC organizará a primeira fase de consultas - conhecidas como "confessionais" - com cada um dos membros para eliminar os três candidatos piores colocados para obter um apoio consensual.

Outras duas etapas serão organizadas, provavelmente em outubro e novembro.

A incapacidade dos países membros de chegar a um acordo em julho para designar um diretor interino demonstrou a "politização do tema", destaca uma fonte próxima ao caso.

"A questão é saber até onde poderiam estar dispostos a chegar alguns, como por exemplo bloqueando um candidato aceito pelos outros membros", afirma um diplomata ocidental.

Com a saída de Azevêdo, um dos quatro vice-diretores da OMC (um americano, um alemão, um nigeriano e um chinês) deveria assumir o posto de maneira interina. Mas Washington e Bruxelas não chegaram a um acordo.

Elvire Fabry, pesquisadora do Instituto Jacques Delors, afirma que "o veto americano" à nomeação do alemão, que tinha o apoio da maioria dos países, se deve à vontade do presidente Donald Trump de "endurecer a relação de força com a União Europeia às vésperas das eleições".

"Uma concessão deste tipo, inclusive para o interino, teria sido muito grande. Mas também é preciso levar em consideração que Washington não descarta que o período interino se prolongue por mais tempo que o esperado, e não aceitou deixar um europeu no posto", analisa.

Os candidatos mantêm a calma, como o britânico Liam Fox, que afirmou à AFP que tem "confiança no processo de seleção", ou a queniana Amina Mohamed, que disse não ter nenhuma razão para duvidar que o calendário será respeitado.

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