Afetada pela pandemia, a Boeing foi humilhada em março como um símbolo do poder dos Estados Unidos e foi ao mercado buscar fundos para financiar suas frágeis operações.
Mas a empresa não teve sorte. Embora tenha captado US$ 25 bilhões, essa etapa mostrou que enfrenta uma nova era em seus 103 anos de história: a Boeing não é mais a gigante infalível que dominou o mercado da aviação por décadas.
A Boeing acumula cancelamentos de pedidos de seu principal produto, o 737 MAX, que está fora de operação há mais de um ano em todo o mundo, após dois acidentes que mataram 346 pessoas e revelações que enfraqueceram a imagem da empresa. Além disso, o desejo pelo 787, sua última aeronave revolucionária, diminuiu consideravelmente.
O futuro da Boeing, que contribui com 1% para o PIB da maior economia do mundo, agora é ofuscado pela crise de saúde planetária que dizimou o transporte aéreo e também pela concorrência incessante de sua rival europeia Airbus.
"A Boeing tem sérios desafios financeiros", diz Stan Sorscher, ex-engenheiro da Boeing. "O tráfego aéreo afundou, os aviões estão em solo, as companhias aéreas clientes não precisam de novos aviões e a capacidade de seus fornecedores da cadeia de suprimentos está em questão", acrescenta.
Scott Hamilton, especialista da empresa de análise Leeham, foi além: "O grande desafio da Boeing é sobreviver".
O CEO do grupo, David Calhoun, admite que perdeu terreno. "Não há dúvida de que os problemas e acidentes do MAX nos afundaram e nos fizeram retroceder quase dois anos", disse em 8 de maio à Fox Business Network.
Embora mantenha grande influência política - seus programas de armas foram bem-sucedidos quando sua divisão civil entrou em colapso - a Boeing deve reconstruir sua reputação, atormentada por duras revelações sobre sua cultura corporativa, o que causou problemas durante o desenvolvimento do 737 MAX.
Diante dessas crises e fraquezas, as agências de classificação financeira, que julgam a capacidade do devedor de honrar seus empréstimos, rebaixaram o rating da Boeing para apenas um nível acima do investimento arriscado.
Por um longo tempo, a Boeing foi considerada uma empresa livre da falência. Informa ter 17.000 fornecedores nos Estados Unidos, 2,5 milhões de empregos e é uma das maiores fornecedoras do Pentágono.
No início da crise, a Boeing buscou uma ajuda do governo federal de US$ 60 bilhões e ganhou forte apoio em Washington, incluindo o do presidente Donald Trump, que em abril afirmou "não podemos permitir que aconteça algo com a Boeing".
No entanto, para ajudá-la, o governo considerou exigir severas contrapartidas a fim impedir que o dinheiro público fosse usado para pagar dividendos ou compensações executivas.
A Boeing obteve ajuda do Federal Reserve, que injetou liquidez no mercado de dívida e abriu a porta para levantar US$ 25 bilhões.
A Boeing foi forçada a fazer concessões; entre elas, pagar juros mais altos a seus credores se as agências de classificação continuarem rebaixando suas notas.