INTERNACIONAL

Biden desafia Turquia ao reconhecer o genocídio armênio

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reconheceu neste sábado (24) o massacre de armênios pelas forças otomanas como genocídio, um ato decisivo para os descendentes de centenas de milhares de mortos, que gerou protestos na Turquia

AFP
24/04/2021 às 21:33.
Atualizado em 22/03/2022 às 03:30

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reconheceu neste sábado (24) o massacre de armênios pelas forças otomanas como genocídio, um ato decisivo para os descendentes de centenas de milhares de mortos, que gerou protestos na Turquia.

Biden se tornou o primeiro presidente dos Estados Unidos a usar a palavra genocídio no comunicado que a Casa Branca costuma emitir por ocasião do aniversário desse massacre, um dia depois de informar que o faria ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, buscando limitar a rejeição esperada do aliado na Otan.

"Nós nos lembramos das vidas de todos aqueles que morreram no genocídio armênio da era otomana e nos comprometemos novamente a evitar que tal atrocidade aconteça novamente", declarou Biden.

"Lembramos para sempre estar vigilante contra a influência corrosiva do ódio em todas as suas formas", acrescentou.

A declaração é uma grande vitória para a Armênia e sua extensa diáspora. Desde 1965, países como Uruguai, França, Alemanha, Canadá e Rússia reconheceram o genocídio, mas os Estados Unidos nunca chegaram a esse extremo.

O presidente americano frisou: "Não o fazemos para culpar, mas para garantir que o que aconteceu nunca se repita".

O mandatário turco, porém, rejeitou as declarações de Biden neste sábado.

"Não beneficia ninguém que os debates - que deveriam ser realizados por historiadores - sejam politizados por terceiros e se tornem um instrumento de ingerência em nosso país", criticou Erdogan em uma mensagem ao patriarca armênio em Istambul.

"As palavras não podem mudar ou reescrever a história", tuitou o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, momentos após a declaração de Biden. "Não vamos aceitar lições de ninguém sobre a nossa história."

Cavusoglu convocou o embaixador dos Estados Unidos, David Satterfield, neste sábado para expressar seu descontentamento, observando que a decisão de Biden causou "uma ferida nas relações que será difícil de reparar", informou a agência de notícias estatal Anadolu.

Uma autoridade do governo americano afirmou que a intenção de Biden não era culpar a Turquia moderna, que ele chamou de "aliada chave da Otan".

"A intenção da declaração - a intenção do presidente - é fazer isso de uma forma exemplar, focada nos méritos dos direitos humanos, e não por qualquer motivo além disso, inclusive para colocar culpa", explicou o funcionário a jornalistas.

Estima-se que cerca de 1,5 milhão de armênios foram mortos entre 1915 e 1917 durante os últimos dias do Império Otomano, que suspeitava que a minoria cristã conspirava com o inimigo russo na Primeira Guerra Mundial.

A população armênia foi presa e deportada para o deserto da Síria, onde muitos foram baleados, envenenados ou morreram de doenças, segundo relatos de diplomatas estrangeiros da época.

A Turquia, que emergiu como uma república secular das cinzas do Império Otomano, reconhece que 300.000 armênios poderiam ter morrido, mas rejeita veementemente que tenha sido um genocídio, alegando que eles morreram em combate ou pela fome, assim como muitos turcos também morreram.

"A Turquia nunca vai reconhecer o genocídio. Isso nunca vai acontecer", disse Aram Bowen, de 33 anos, à AFP em uma manifestação de várias centenas de membros da comunidade armênia em Nova York.

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