Carol Ng parou de contar as ameaças e as mensagens chamando-a de "barata" desde que seu número de telefone foi ilegalmente revelado on-line. Mas esta ativista pró-democracia não quer se deixar intimidar.
"Eles sabem que podem assustar muito as pessoas", disse à AFP a presidente da Confederação de Sindicatos de Hong Kong. "Mas não tenho medo, porque são as minhas liberdades, e quero defendê-las".
Uma coisa é certa: ela não está sozinha.
Recentemente, o site HK Leaks intensificou sua campanha de "doxing" - a prática de vazar informações pessoais de algumas pessoas para prejudicá-las - contra ativistas pró-democracia.
O site ainda está ativo, apesar de uma ordem no ano passado do Comissário de Privacidade de Hong Kong para parar o assédio e de uma denúncia à polícia local.
O HK Leaks ataca moradores de Hong Kong que considera terem violado a nova e drástica Lei de Segurança Nacional, imposta por Pequim à ex-colônia britânica.
Algumas semanas depois que o texto entrou em vigor, o HK Leaks revelou dados pessoais de pelo menos 14 pessoas, as quais acusa de infringirem a lei, segundo jornalistas da AFP.
Promovido por grupos ligados ao Partido Comunista da China e hospedado em servidores na Rússia, o site foi lançado em agosto de 2019 e, desde então, assediou milhares de pessoas que apoiaram as enormes mobilizações pró-democracia no ano passado em Hong Kong.
"Quando me atacaram, senti muito estresse", disse Ng à AFP.
"Recebia ligações e mensagens dos "fitas azuis" no Facebook", explica, referindo-se à cor associada aos apoiadores de Pequim.
"De vez em quando, inundavam-me com uma enxurrada de mensagens no WhatsApp. Eles nos chamam de "baratas"", relatou.
Hospedado em um servidor russo, o site foi projetado para escapar da lei, segundo especialistas. Usa hosts anônimos e altera regularmente seu domínio.
O site agora exibe uma janela pop-up, informando que "manifestantes causaram a morte do Estado de Direito e da ordem na sociedade de Hong Kong" e que mais de 2.000 policiais e ativistas pró-Pequim também foram vítimas de "doxing".
Vários dos principais ativistas pró-democracia, como Joshua Wong e Agnes Chow, estão listados na seção "encrenqueiros da independência", assim como o magnata da mídia Jimmy Lai.
Entre os 14 nomes que eles acusam de violar a lei de segurança nacional, estão militantes como Tony Chung, Nathan Law e Ray Wong.