A nove dias de uma cúpula crucial, os apelos por um acordo "breve" para o plano de saída da recessão aumentam na União Europeia (UE), onde os líderes multiplicam seus contatos para abrir caminho para um pacto
A nove dias de uma cúpula crucial, os apelos por um acordo "breve" para o plano de saída da recessão aumentam na União Europeia (UE), onde os líderes multiplicam seus contatos para abrir caminho para um pacto.
"Se avaliarmos bem a profundidade da crise, não temos tempo a perder", disse a chanceler alemã Angela Merkel ao Parlamento Europeu nesta quarta-feira(08) em um discurso para apresentar as prioridades de sua presidência temporária do bloco.
Seu pedido por um acordo "breve" não é trivial. Nos dias 17 e 18 de julho, os líderes europeus vão discutir pela segunda vez o plano de recuperação de 750 bilhões de euros (840 bilhões de dólares), proposto pela Comissão Europeia.
Na terça-feira, Bruxelas reduziu suas perspectivas econômicas para 2020, que apontam para uma contração de 8,3% no Produto Interno Bruto (PIB) na UE devido à pandemia, sem considerar uma eventual "segunda onda" de infecções.
Mas, apesar dos avisos e pedidos para agir rapidamente, os 27 líderes permanecem divididos, principalmente entre os países do norte e do sul, em detalhes do plano de recuperação baseado na emissão de dívida comum nos mercados.
"Ninguém pode sair dessa crise sozinho, todos somos vulneráveis", alertou Merkel, especificando que "a principal prioridade da presidência alemã da UE será a unidade da Europa para garantir que ela saia mais unida e fortalecida a crise".
À medida que a cúpula se aproxima, os contatos entre os líderes se aceleram, especialmente na Holanda, que lidera o grupo dos "frugais", adeptos do rigor fiscal, inclusive nas nações do sul.
Os chefes de governo da Espanha e da Itália, Pedro Sánchez e Giuseppe Conte, mostraram nesta quarta-feira sua frente comum diante do "frugal" com uma reunião em Madri, na qual alertaram que "sem uma resposta forte" o "mercado único europeu" está em perigo .
Ambos os líderes, cujos países estão entre os mais afetados pela pandemia, têm o apoio de Portugal e viajam nos próximos dias para a região "frugal" e à Alemanha para preparar o terreno para a cúpula.
Holanda, Áustria, Suécia e Dinamarca são os chamados "frugais" e compartilham de uma perspectiva das negociações, que defende um montante menor de recursos e sua distribuição através de empréstimos sob rigorosas condições.
Sua relutância em relação ao plano é justificada pela argumentação de que estes países são mais flexíveis em questões fiscais e não realizaram as reformas necessárias após a crise da dívida na última década.
Tem também relação com a cultura. "No norte da Europa, tudo tem a ver com o calvinismo e o protestantismo: viva uma vida sóbria, não exiba sua riqueza", segundo Jos Versteeg, analista do InsingerGilissen Bank.
No entanto, os apelos da Holanda por reformas econômicas também têm relação com a política interna do Reino dos Países Baixos, em um momento de expansão da extrema direita antes das eleições legislativas de 2021.
"Os partidos de centro-direita temem os populistas de direita que são contra a UE e tudo está vinculado", o que explicaria o rigor de suas sugestões no bloco, segundo o professor da Universidade Erasmo de Roterdã, Bas Jacobs.