INTERNACIONAL

Atentado em Bagdá escancara fragilidades das forças de segurança

O duplo atentado suicida na quinta-feira em Bagdá, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), colocou em evidência os problemas nas forças de segurança iraquianas, debilitadas pela pandemia de coronavírus, grupos armados rivais e tensões políticas

AFP
22/01/2021 às 12:11.
Atualizado em 23/03/2022 às 21:12

O duplo atentado suicida na quinta-feira em Bagdá, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), colocou em evidência os problemas nas forças de segurança iraquianas, debilitadas pela pandemia de coronavírus, grupos armados rivais e tensões políticas.

Pelo menos 32 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas no ataque, cometido em um bairro comercial da capital. Foi o mais mortífero em anos.

"O EI não retornou (...) mas há verdadeiros problemas dentro do aparato de segurança iraquiano e (este atentado) é a prova", comentou à AFP AFP Jack Watling, pesquisador no Royal United Services Institute de Londres.

Em 2003, quando os americanos derrubaram Sadam Hussein, o aparato de segurança foi renovado completamente, principalmente com a ajuda de instrutores estrangeiros, que deixaram o país com a pandemia de covid-19.

A falta de espaço e alto índice de contágios nos quarteis, além dos chamados das tropas estrangeiras para ajudarem em seus países, "criaram lacunas", admitiu recentemente um oficial americano à AFP.

Os iraquianos perderam grande parte do apoio da coalizão em termos de vigilância, "um sistema de alerta precoce" crucial para abortar ataques jihadistas, de acordo com Watling.

O Iraque declarou vitória sobre o EI no final de 2017, reabriu ruas e removeu quilômetros de cercas em Bagdá. As tropas mais experientes foram enviadas em busca de células jihadistas adormecidas, em desertos e montanhas, e as cidades foram deixadas nas mãos de unidades militares menos treinadas.

Para o especialista Alex Mello, "a rede do EI para ataques urbanos em Bagdá parecia degradada, a ponto de quase não funcionar", mas o grupo acabou encontrando "uma lacuna a explorar".

O oficial americano deu alguns exemplos: Em dezembro, a coalizão realizou um bombardeio perto de Mossul, no norte do país, visto que o grupo jihadista começava a circular livremente, dada a incapacidade das tropas terrestres em contê-lo.

Em um único bombardeio, 42 jihadistas foram mortos, de acordo com a coalizão. Um balanço sem precedentes.

"As autoridades em Bagdá ficaram furiosas com as forças locais, que deveriam saber que todos esses jihadistas haviam se reagrupado", disse a autoridade americana à AFP.

E isso não é nada comparado com a outra grande questão que abala o Iraque: que papel deve ser dado aos ex-paramilitares das Forças de Mobilização Popular (Hashd al Shaabi), que muitos consideram milicianos pró-Irã e que agora que fazem parte do Estado?

Como fazê-los trabalhar lado a lado com as unidades de elite criadas pelos americanos?

Já se foi a sagrada união da guerra contra o EI de 2014 a 2017, quando a coalizão, as Forças de Mobilização Popular e o Exército trocavam informações.

Além disso, o governo Trump apenas adicionou lenha à fogueira matando o general iraniano Qasem Soleimani e seu tenente iraquiano Abu Mehdi al Muhandis em Bagdá.

"O principal obstáculo é político", segundo Watling. O primeiro-ministro, Mustafa al-Kazimi, passou por isso várias vezes.

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