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As cicatrizes das manifestações de Hong Kong um ano depois

O movimento de protesto iniciado em Hong Kong há um ano mudou a imagem da cidade, onde as calçadas de paralelepípedos foram substituídas por concreto, as passarelas receberam proteção, e os campi das universidades foram cercados

AFP
09/06/2020 às 13:06.
Atualizado em 27/03/2022 às 21:16

O movimento de protesto iniciado em Hong Kong há um ano mudou a imagem da cidade, onde as calçadas de paralelepípedos foram substituídas por concreto, as passarelas receberam proteção, e os campi das universidades foram cercados.

Há um ano, em 9 de junho de 2019, uma multidão de cerca de um milhão de pessoas protestou no centro da metrópole financeira, exigindo a retirada de um projeto de lei que procurava autorizar extradições para a China continental.

O movimento, que cresceu para uma contestação geral contra a intromissão de Pequim na política local, durou até dezembro, com ações quase diárias e muitas vezes repleta de confrontos violentos com a polícia.

As concentrações foram interrompidas pela emergência do coronavírus, mas as cicatrizes da maior mobilização que o território semiautônomo viveu desde sua retrocessão em 1997 são visíveis.

É o caso da Universidade Politécnica (PolyU), que em novembro foi palco dos confrontos mais violentos.

Seus imponentes prédios de tijolos vermelhos estão agora cercados por barreiras plásticas cheias de água, e os visitantes precisam passar por uma verificação de identidade para acessar o campus.

Essas densas barreiras brancas, difíceis de mover pelos manifestantes, irromperam em qualquer prédio considerado sensível, como o Conselho Legislativo (LegCo, o Parlamento de Hong Kong), algumas delegacias de polícia, ministérios e delegações de Pequim na cidade.

Desde então, poucas patrulhas são compostas por menos de quatro policiais, muitos dos quais usam o uniforme do Batalhão de Choque diariamente.

Várias empresas com capital chinês, ou suspeitas de apoiarem o poder comunista, segundo os manifestantes, ainda têm suas janelas protegidas com tábuas de madeira, por medo de um possível ato de "vandalismo".

Os paralelepípedos que muitos manifestantes arrancaram durante as marchas para usá-los como projéteis não foram substituídos, e sim cobertos com uma camada de concreto.

Alguns manifestantes conseguiram escrever alguns slogans antes de o cimento secar.

Muitas das passarelas para pedestres que atravessam as grandes avenidas da cidade também foram protegidas com cercas, para impedir que as pessoas as usem para atirar objetos e atrapalhar o tráfego.

"Durante os protestos de 2019, os manifestantes desconstruíram o tecido urbano, colocando a infraestrutura urbana a serviço de seus combates", disse à AFP Antony Dapiran, advogado de Hong Kong que escreveu vários livros sobre movimentos sociais na ex-colônia britânica.

"Quando entendeu essas táticas, o governo de Hong Kong agiu de acordo, removendo todo o mobiliário de rua que os manifestantes usavam para resistir e erguer barricadas", afirmou.

Durante meses, não sobrava uma única barreira metálica nas esplanadas centrais. Os manifestantes se tornaram especialistas em desmontá-las e faziam isso em apenas alguns segundos com chaves, ou chaves de fenda.

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