Ruslan Krasnikov foi preso como milhares de russos por se manifestar a favor do opositor Alexei Navalny. Ele acaba de ser libertado da prisão, mas seu tempo lá não diminuiu sua sede de mudança e ele planeja seguir lutando para alcançá-la.
"Os protestos vão continuar. As pessoas sofreram uma injustiça", disse à AFP esse jovem de 20 anos desempregado. Ele foi solto na noite desta quarta-feira (10) após cumprir uma sentença de 10 dias em São Petersburgo.
Desafiando a temperatura de -20 graus, parentes e ativistas foram receber uma dúzia dos liberados.
Entre o final de janeiro e o início de fevereiro, dezenas de milhares de pessoas protestaram em uma centena de cidades russas para exigir a libertação do adversário número um do Kremlin.
Navalny sofreu um envenenamento no último verão, que atribui ao presidente Vladimir Putin. Ele foi transferido para a Alemanha, onde se recuperou em um hospital, mas foi detido ao retornar em 17 de janeiro.
Desde então, ele foi condenado a quase três anos de prisão por violar um controle judicial e está exposto a outras penas.
Marcadas pela violência policial, as manifestações não autorizadas a seu favor resultaram em mais de 11.400 prisões, segundo a ONG especializada OVD-Info.
A maioria dos detidos recebeu multas ou penas curtas de prisão, mas mais de 50 processos criminais foram abertos contra os manifestantes.
Para evitar novas detenções em massa, a equipe de Navalny não convocou nenhum outro protesto. Eles preveem manifestações na primavera e no verão (boreal), de olho nas eleições legislativas de setembro.
Apesar da repressão, os apoiadores de Navalny estão prontos para continuar protestando.
"As autoridades se enganaram: queriam nos assustar, mas na verdade estamos mais unidos", afirma Nastia Cherniaeva, de 25 anos. Ela passou três dias no centro de detenção de Luga, a 160 km de São Petersburgo, e foi libertada neste fim de semana.
"As pessoas estão com medo, mas muitos são capazes de superar o medo e ir para as ruas se os protestos continuarem", disse Kirill Smirnov, que cumpriu a mesma pena em Luga. "Estamos ainda mais irritados com o governo do que antes", acrescenta.
"Os manifestantes não são criminosos ou extremistas que querem lançar coquetéis molotov", declara Smirnov, um profissional do setor digital. Ele foi preso em 2 de fevereiro, mesmo dia em que Navalny foi condenado.
Naquela noite, conta ele, a maioria dos manifestantes não resistiu à prisão e os que resistiram foram espancados. "Vi como arrastaram uma menina no chão, com a cabeça na neve, porque ela resistiu", acrescenta.
Esse número recorde de prisões, às vezes puramente arbitrárias, colocou a máquina judiciária russa em pleno funcionamento.