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Após explosão em Beirute, o exílio para fugir de um país à deriva

De seu escritório, Shady Rizk filmou de camarote a explosão apocalíptica no porto de Beirute. Cerca de 350 pontos de sutura depois, sua sobrevivência é um milagre e nesta segunda chance ele pretende morar muito longe do Líbano

AFP
17/08/2020 às 10:47.
Atualizado em 25/03/2022 às 16:12

De seu escritório, Shady Rizk filmou de camarote a explosão apocalíptica no porto de Beirute. Cerca de 350 pontos de sutura depois, sua sobrevivência é um milagre e nesta segunda chance ele pretende morar muito longe do Líbano.

Para muitos libaneses arrasados por um colapso econômico e restrições bancárias draconianas, irritados com uma classe política considerada corrupta e sobrevivendo diariamente com serviços públicos precários, a explosão causada por uma enorme quantidade de nitrato de amônio foi a tragédia que fez o copo transbordar.

"Não me sinto mais seguro aqui", diz Rizk, engenheiro de telecomunicações. "Deus me deu outra vida, uma segunda chance, não quero viver aqui".

Neste fatídico 4 de agosto, ele filmou com seu celular de seu local de trabalho a fumaça densa que escapava de um armazém no porto, logo em frente. Poucos segundos depois, a explosão o atingiu com força total.

Solteiro, de 36 anos, decidiu se estabelecer no Canadá, onde tem primos. "Iria para qualquer lugar, menos aqui, perdi todas as esperanças".

"Tentamos fazer uma revolução. Nada muda, tudo piora", diz ele, desejando morar em um lugar onde possa planejar seu futuro. "Estamos sendo mortos lentamente."

Nas últimas décadas, a história do Líbano é também a do exílio. Com a guerra civil (1975-1990) e as crises econômicas, não há família que não tenha um filho, um irmão, um primo ou parente próximo que foi para a Europa, Américas, Golfo.

Hoje, a diáspora libanesa é calculada em quase três vezes o tamanho da população de um pequeno país de mais de quatro milhões de habitantes.

Mesmo antes da explosão, milhares de libaneses que conseguiram aproveitar uma rara oportunidade deixaram o país, fugindo de demissões em massa e cortes de salários vinculados a uma crise econômica agravada pela epidemia de COVID-19.

Também houve a desilusão após o movimento de protesto popular de outubro de 2019, contra um poder que permanece inabalável.

A explosão de 4 de agosto foi o golpe final para Walid Abou Hamad. Ele decidiu enviar seus gêmeos de 17 anos para a França para morar com a mãe, médica em Paris.

O cirurgião ligou imediatamente para a ex-mulher após a tragédia. "Eu disse a ela, pegue eles, pegue eles!", conta com a voz cheia de emoção.

"Como pai, tenho que garantir que meus filhos não fiquem traumatizados ou arrisquem suas vidas".

O homem de 40 anos estava em casa com o filho Paulo na hora da explosão. Seus reflexos de infância da Guerra Civil voltaram e se refugiou no banheiro, abraçando o filho.

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