Meio ambiente

Ano de 2024 começa com mortandade de peixes

A triste cena de mais uma mortandade de peixes no rio Piracicaba marcou o início do ano na cidade. As margens do manancial ficaram tomadas por corimbas, dourados, mandis, lambaris, pintados e outras espécies. As causas das mortes dos peixes estão sendo investigadas pela Cetesb e uma das possibilidades é a proliferação excessiva de algas que deixaram verdes as águas do Piracicaba

Da Redação
03/01/2024 às 07:54.
Atualizado em 03/01/2024 às 07:57
Milhares de peixes apareceram mortos e ficaram amontoados, principalmente às margens do Piracicaba (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)

Milhares de peixes apareceram mortos e ficaram amontoados, principalmente às margens do Piracicaba (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)

Uma cena chocante marcou o início do ano em Piracicaba, em plena piracema (época de reprodução dos peixes). Ontem, logo de manhã, milhares de peixes mortos eram vistos, principalmente, às margens do rio, entre a rampa dos Navegantes, no bairro Nova Piracicaba, e a Ponte do Caixão. Muitos agonizavam. Dourados, mandis, curimbatás, lambaris, piaus, pintados, jurupenséns e até os resistentes cascudos, que ficam mais no fundo do rio. Peixes nativos, de todos os tamanhos, incluindo de cinco a seis quilos. 

Em nota, no final da tarde, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) informou que “não foi verificado nenhum lançamento irregular de efluentes que pudesse provocar a situação encontrada”. “É possível inferir que a baixa vazão do Rio, associada às altas temperaturas e concentração de poluentes na água, pode ter ocasionado floração de algas, causando um déficit de oxigênio dissolvido, elemento essencial para a vida aquática, causando a morte de peixes”, diz a nota.

Mas o professor Plinio Barbosa de Camargo, do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura), não acredita que as algas, que deixaram o rio verde no sábado (30), ocasionaram a mortandade, segundo Luis Fernando Magossi, o Gordo do Barco. O professor vai analisar amostras de água coletadas ontem em vários pontos do rio: Tupi, Rua do Porto, Nova Piracicaba, Ondinhas e na Ilha da Sepultura. Hoje, ele percorrerá o rio até Americana. “Quer embasar a sua opinião técnica”. 

‘Quem vai tomar alguma atitude’

Luis Fernando Magossi, o Gordo do Barco, alertado por um amigo, foi para a beira do rio bem cedo. Ficou indignado. Calculou umas duas/três toneladas de peixes mortos. "Mas morreu muito mais porque estamos na piracema - época de reprodução dos peixes. Cada peixe tem um monte de ovos na barriga. Na piracema não pode pescar que é crime, imagine essa matança. É muito mais grave ainda", comentou

Magossi reclamava da "grande dificuldade" em falar com a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). É um absurdo. A Polícia Ambiental foi comunicada e não apareceu ainda. Se pega um peixinho para comer, não pode; quebram a vara e multam, na frente de todo mundo. Não tem choro. Agora esse monte de peixes. Quem vai tomar alguma atitude. Ficamos como tontos, comunicando toda vez que morre peixes e tudo fica na mesma. A gente nunca tem notícias da decisão tomada a respeito", desabafou, referindo-se aos órgãos competentes.

Adilson Miranda, 69, aposentado, resumiu o seu sentimento ao ver tantos peixes mortos. "Simplesmente revoltante. Não é a primeira nem a segunda vez que vemos isso. A gente comunica a Ambiental (polícia) e ela diz que a responsabilidade é da Cetesb. Um joga em cima do outro. Agora, há fiscalização para pegar um pescador com a varinha na mão, isso gera dinheiro. Por que não multam as empresas? É muito fácil, vem aqui, recolhe amostra para saber qual é o produto químico que tem na água e identifica a empresa na região. Peixe grande ninguém multa, só o pescador".

O fundador da SOS Piracicaba, Jean Carlos Machado, 39 anos, também foi ver de perto a situação. "Infelizmente estamos vendo mais uma cena lamentável”. Ele disse à Gazeta que há dois anos não ocorria mortandade no rio. "Está vindo lá de cima, acima do Monte Alegre", comentou. 

Magossi percorreu, por terra, alguns trechos do rio e foi até a ponte do Funil, no Distrito de Tupi, onde não encontrou peixes mortos. Mas havia muitos na ponte do bairro Monte Alegre. Também tinha peixes mortos no salto.

Às 6h, Edson Ferreira, 66 anos, saiu para caminhar com o cachorro e, via WhatsApp, começou a receber mensagens de um amigo sobre o que estava ocorrendo no Piracicaba. Na rampa, na avenida Beira Rio, viu os peixes descendo mortos e agonizando. Ao falar com a Gazeta, estava inconformado, segurando um grande curimbatá morto. "Já soltei dois desses. do mesmo tamanho” - consegui “ressucitá-los”. “Esse aqui é o que sobrou. Com certeza foi veneno. No poço do Bongue tem um caminhão de peixes mortos".

Por volta das 10h30, a prefeitura emitiu nota informando que acompanhava o caso de mortandade dos peixes no rio Piracicaba por meio do Pelotão Ambiental, técnicos da Simap (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Meio Ambiente) e Defesa Civil, e que já havia acionado a Cetesb e iria registrar Boletim de Ocorrência sobre o caso para que as causas sejam identificadas e os responsáveis punidos.
Técnicos da Cetesb estiveram na rampa dos Pescadores conferindo o pH, oxigenação e temperatura da água. Informaram à Gazeta que não constataram alterações. 

Nota da Cetesb

“A Cetesb, por meio de sua Agência Ambiental de Piracicaba, realizou hoje vistoria no trecho compreendido entre a entrada do Rio Piracicaba na área urbana (Ponte da Coopersucar), até o Distrito de Ártemis, tendo sido verificada a presença de peixes mortos em todo o trecho percorrido. Não foi verificado nenhum lançamento irregular de efluentes que pudesse provocar a situação encontrada.
É possível inferir que a baixa vazão do Rio, associada às altas temperaturas e concentração de poluentes na água, pode ter ocasionado floração de algas, causando um déficit de oxigênio dissolvido, elemento essencial para a vida aquática, causando a morte de peixes.

Durante a vistoria, foram coletadas amostras e obtido um perfil de oxigênio, pH e temperatura, cujos resultados corroboram com a hipótese levantada até o momento. Amostras também foram encaminhadas para o laboratório da Cetesb em São Paulo para análises de clorofila, toxicidade aguda e fitoplâncton.

O monitoramento automático mantido pela Cetesb, em ponto a jusante da malha urbana de Piracicaba, também mostra registros de variação significativa de oxigênio dissolvido, com valores críticos na manhã de hoje. A concentração de oxigênio dissolvido mensurado às 14h já mostrava concentrações mínimas para a preservação de vida aquática.

A Cetesb continuará investigando as hipóteses e tão logo obtenha os resultados das análises, encaminhará mais informações.”

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