Inventário antes da grande limpeza? O governo alemão revelou nesta terça-feira (6) um relatório sem precedentes da presença da extrema direita nas forças de segurança- um motivo de "vergonha", mas não um "problema estrutural"
Inventário antes da grande limpeza? O governo alemão revelou nesta terça-feira (6) um relatório sem precedentes da presença da extrema direita nas forças de segurança- um motivo de "vergonha", mas não um "problema estrutural".
Os escândalos se multiplicaram nos últimos meses, com a descoberta de vários grupos de policiais trocando comentários racistas. No Exército, um comando de elite infiltrado por neonazistas foi parcialmente dissolvido neste verão europeu (inverno no Brasil).
"Cada caso comprovado é uma vergonha para todas as forças de segurança", declarou o ministro do Interior da Baviera, Horst Seehofer, em entrevista coletiva.
Os serviços de Inteligência contabilizam, de acordo com dados divulgados nesta terça, cerca de 377 casos de extremistas de direita nas forças de segurança, incluindo 319 na Polícia, uma pequena minoria entre os 300 mil policiais. Esses dados cobrem o período de janeiro de 2017 a março de 2020.
Não existe "nenhuma rede de extrema direita dentro da Polícia Federal", ressaltou seu responsável, Dieter Romann.
Esses números confortaram o ministro, acusado na Alemanha de não querer esclarecer totalmente essas tendências, em sua convicção de que as ideias extremistas não são um "problema estrutural" dentro das forças de ordem.
Embora tenha apresentado este relatório elaborado pelos serviços de Inteligência, Seehofer ainda está relutante quanto a fazer investigações muito profundas, para evitar envergonhar o conjunto dos "99% de policiais que respeitam" a Constituição.
No entanto, as regiões anunciaram que poderão conduzir suas próprias investigações para preencher essa lacuna.
De fato, a pressão aumentou nos últimos meses, inclusive por parte do Partido Social-Democrata, parceiro dos conservadores na coalizão de Angela Merkel, para esclarecer o tamanho real desses grupos.
O próprio chefe de Estado, Frank-Walter Steinmeier, uma autoridade moral na Alemanha, convocou no final de setembro que se lute "com mais determinação" contra as redes de extrema direita no país.
A porosidade entre a extrema direita e parte da Polícia é, porém, algo comprovado. O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) é o grupo no Bundestag com mais policiais em suas fileiras - 5 de 89.
Vários casos recentes, que as investigações do governo não incluíram na contagem, geraram indignação na Alemanha. O terrorismo de extrema direita é considerado uma das principais ameaças à segurança do país.
Na Renânia do Norte-Vestfália, a região mais populosa da Alemanha, cerca de 30 policiais, suspensos desde então, trocaram no aplicativo WhatsApp fotos de Adolf Hitler e suásticas, bem como bandeiras do Terceiro Reich e uma montagem mostrando um refugiado em uma câmara de gás em um campo de concentração.
Um grupo semelhante foi desmantelado no final de setembro em Berlim.