Acipi celebra 90 anos em plena vitalidade (Divulgação)
A Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi) nasceu de um contexto de Brasil em pane político e social. Basta recordar que nos anos de 1930, quando a entidade ganhou forma e força, a democracia estava em perigo, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder; São Paulo estava em perigo, com o desrespeito do governo central à Constituição e a visão autoritária do gaúcho eleito; Piracicaba vivia esses tremores, tanto é que a participação da cidade na Revolução Constitucionalista de 1932 foi intensa, de corpo e alma, com objetivo de tentar reverter abusos de autoridade e preservar a dinâmica social no estado, sem desvarios personalistas e sob a égide da Lei.
Essa consciência democrática e o viés liberal das lideranças políticas e econômicas do município exigia ações de bom senso e que desse alguma estabilidade ao mercado e à sociedade. Sem emprego, o que estava ruim, poderia ficar ainda pior.
A Acipi, portanto, nasce em 1933 com uma profunda responsabilidade social, de tentar aplacar os ânimos e traçar novos caminhos, com maior previsibilidade. O ato de fundação da entidade foi tão acertado que perdurou, devido à sua visão de futuro. Não é à-toa que a até hoje ela é tida um exemplo em suas estratégias de organização do setor econômico, especialmente de serviços e comércios, sem, evidentemente deixar de lado a indústria. É importante destacar que em grande medida essa política só foi possível com o apoio intelectual dos imigrantes, dentre os quais, italianos, sírio-libaneses e alemães, que atuavam no setor e traziam experiência afins de seus países de origem.
Um artigo do historiador Lucas Magioli, elaborado a pedido da Acipi, recupera dos jornais da cidade como se deu a composição da primeira diretoria da Acipi. Estavam lá Luiz Dias Gonzaga (presidente). Ele foi prefeito de Piracicaba por mais de um mandato e era um grande empresário do setor que hoje se denomina agronegócio. Na prática, fazendeiro. Luiz Coury (vice-presidente). Pelo sobrenome, fica evidente sua descendência síria-libanesa. Henrique Nehring (1º secretário). Tudo indica naturalidade alemã. E assim, sucessivamente: Luiz Gonzaga de Lima (2º secretário); Vicente Rando (1º tesoureiro); Elias Daibes (2º tesoureiro). Terênzio Gallese (diretor).
Este foi um homem do comércio, mas com forte influência no setor bancário. Seguem demais diretores cujos sobrenomes, se não forem de origem europeia, eram piracicabanos de quatro costado: Coronel Manoel Ignácio da Motta Pacheco, André Ferraz Sampaio, Ermelindo Del Nero, Esmeraldo Muller, Henrique Nehring e Mario Lordello. Ainda segundo Magioli, na oportunidade foi elaborado o primeiro estatuto da entidade, redigido pelo Moacyr Amaral dos Santos.
Da sua fundação até os dias que correm, a Acipi foi fortalecendo suas raízes e ganhando a credibilidade junto a todos os que se envolviam com o seu projeto, a ponto de ter sido por um grande período representante direto também do setor agrícola, uma vez que Piracicaba nasce economicamente voltada para o setor exportador, especialmente na produção canavieira e no comércio de açúcar.
Evidentemente, o setor industrial foi se desenvolvendo e ganhando autonomia, necessitando de novas organizações específicas para representá-la, capazes de interagir com uma dinâmica relativamente diferente do setor de comércio e serviços.
Por isso, quando se fala que a Acipi está comemorando 90 anos, é fundamental ter em mente esta breve retrospectiva, o que permite dimensionar sua grandeza tanto para a história econômica como social do município. Porque ela foi a primeira a colocar em prática o slogan “a união faz a força’, “vamos planejar o amanhã”, servindo assim de exemplo para outras entidades que seriam formadas em sua esteira.
A pujança do mercado local, a atratividade de Piracicaba para muitos empresários que buscam uma boa região para novos investimentos tem muito do peso da Acipi, que ajudou a construir as bases de uma economia sólida e a planificar o terreno da gestão empresarial.