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Abandonados por Trump, afegãos podem depositar esperanças em Biden?

O plano de Donald Trump para limitar o número de soldados americanos no Afeganistão pode desencadear uma nova onda de violência do Talibã - dizem analistas, acrescentando que, se Joe Biden moderar sua abordagem, isso pode limitar a tentativa do grupo insurgente de tomar o poder

AFP
19/11/2020 às 12:07.
Atualizado em 24/03/2022 às 01:50

O plano de Donald Trump para limitar o número de soldados americanos no Afeganistão pode desencadear uma nova onda de violência do Talibã - dizem analistas, acrescentando que, se Joe Biden moderar sua abordagem, isso pode limitar a tentativa do grupo insurgente de tomar o poder.

Segundo a última decisão de Washington, mais 2.000 soldados americanos vão deixar o Afeganistão em 15 de janeiro, menos de uma semana antes de Biden tomar posse. Ficarão estacionados neste país 2.500 militares.

O Pentágono anunciou este plano na terça-feira, depois que Trump prometeu encerrar uma guerra que matou cerca de 2.400 militares americanos e custou mais de US$ 1 trilhão.

"A esperança é que os Estados Unidos [sob a presidência de Biden] não tenham pressa em sair, que apliquem uma pressão mais coercitiva sobre os talibãs", disse o vice-diretor da Unidade de Investigação e Avaliação do Afeganistão (AREU), Nishank Motwani.

"A ênfase na retirada não ajuda muito o presidente Ashraf Ghani, ou as forças afegãs, porque os talibãs sabem que podem esperar os Estados Unidos e pressionar pelo poder total", disse à AFP.

Ainda assim, reduzir as tropas para 2.500 em janeiro é algo com que o novo governo Biden pode se sentir confortável, de acordo com Vanda Felbab-Brown, da Brookings Institution.

"Se os Estados Unidos quiserem ficar alguns meses, os talibãs vão engolir isso", disse à AFP, mas surgirão dificuldades se planejarem manter a força depois de maio de 2021.

A presença dos Estados Unidos por mais cinco anos, ou mais, "não é aceitável para o grupo", acrescentou.

Qualquer redução no número de soldados terá um impacto considerável no campo de batalha, de acordo com o analista político afegão Atta Noori.

"Isso é muito irresponsável, porque a guerra contra o terrorismo ainda não acabou no Afeganistão", diz ele.

O ideal, de acordo com Motwani do AREU, seria Washington manter uma força residual pequena, mas capaz, com recursos de Inteligência.

A violência aumentou nos últimos meses, apesar de os talibãs e o governo afegão manterem negociações de paz no Catar desde 12 de setembro.

O Talibã lançou ofensivas contra as forças afegãs em todo país. As autoridades também culpa o grupo por dois ataques brutais a centros educacionais em Cabul, que mataram dezenas de alunos nas últimas semanas.

Não é, porém, apenas o derramamento de sangue que preocupa as autoridades afegãs.

A redução das tropas também endureceu a posição do Talibã na mesa de negociações em Doha, onde as negociações de paz estão paralisadas há semanas.

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