O poderoso Álvaro Uribe engrossa a lista de ex-presidentes latino-americanos envolvidos com a justiça.
Na Colômbia, sua prisão domiciliar atinge principalmente seu sucessor, o presidente Iván Duque, que tenta levantar um país em crise devido à pandemia.
A Suprema Corte abalou o mundo político com a decisão de confinar em casa o também senador e líder natural do partido no poder, enquanto o investiga e decide se o julga por manipular testemunhas contra um parlamentar da oposição.
Um dia depois da ordem de prisão, o mentor político de Duque testou positivo para o novo coronavírus, informou seu partido nesta quarta-feira (5).
Uribe, de 68 anos, contraiu a COVID-19, "mas está bem de saúde", informou à AFP o Centro Democrático.
Desde cedo, veículos de imprensa locais especularam sobre seu estado de saúde, após uma junta médica entrar na fazenda El Ubérrimo, onde o político se encontra, no departamento de Córdoba (norte).
Uribe governou o país entre 2002 e 2010. Ele responde como membro do parlamento, portanto só pode ser julgado pelo tribunal superior, que emitiu a ordem alegando "possíveis riscos" de obstrução à justiça.
Ele "é uma figura altamente reconhecida na Colômbia, mas também controversa", afirma à AFP Felipe Botero, cientista político da Universidade de Los Andes. O fundador do partido Centro Democrático (CD) desperta paixões como ninguém na Colômbia.
Ferrenho opositor ao acordo de paz de 2016 com as Farc, a ex-guerrilha que ele acusa de ter matado seu pai, Uribe divide a opinião pública desde então.
Na terça-feira, caravanas e panelaços demonstraram apoio e rejeição.
O político colombiano mais influente deste século é admirado por sua mão forte contra os rebeldes e odiado, com igual fervor, por vários escândalos de corrupção e violações de direitos humanos em seu círculo próximo.
Duque endossou a dor dos uribistas: que seu líder tenha que se defender na prisão, enquanto ex-guerrilheiros - alguns também senadores - o fazem em liberdade enquanto "dilaceram o país com a barbárie".
O futuro da direita, que recuperou o poder na figura de Duque, um político inexperiente, depende em grande parte do destino de Uribe, que na sexta-feira completou dois dos quatro anos de seu mandato de senador.
Duque "está sob grande pressão porque já enfrentou um incêndio econômico e social (devido à pandemia), e agora pode ter um incêndio político e até um incêndio institucional", diz o cientista político Álvaro Forero.